“E um dos indiretos modos de entender é achar bonito.”
Tinha acabado de entrar na exposição sobre Clarice Lispector no Centro Cultural Banco do Brasil e pensava justamente na dificuldade que sempre tive de “entender” a escritora. Tenho vários livros, tentei ler alguns deles, mas sempre fui abandonando a leitura pelo caminho, um a um. No entanto, ao entrar na primeira sala e me deparar com as fotos e algumas de suas frases era como se aquilo que estava lendo e admirando fizesse todo o sentido para mim, desde sempre.
Foi quando me deparei com a frase lá em cima.
Estive lá no domingo, mais um dia chuvoso no Rio e, pelo que eu tinha lido, o último para se conferir a exposição, que já tinha feito o maior sucesso em São Paulo. Foi uma surpresa atrás da outra. Além de achar as soluções cenográficas perfeitas para se ler Clarice, gostei muito de entrar em contato com o universo mulher da escritora. Numa entrevista, que assisti sentada no sofá, ao lado da máquina de escrever usada por Clarice, ela explica que “é muito maternal” e que, portanto, tem muito mais facilidade e gosto para lidar com crianças que com adultos.
Nessa linha feminina, um dos documentos expostos que mais me chamou a atenção foi uma listinha de afazeres domésticos de Clarice:
1) Viver melhor as 24 horas do dia (ter mais tempo)
2) Tinturaria cabelo
3) Luvas
4) Café turco
5) Ginástica
1) ...
2) Morangos pessoas de idade
3) ... o menu
4) Vestido preto
5) Dar paz ao rosto (telefonar Wilma)
Desde que casei, as listas com afazeres tornaram-se um hábito indispensável. A gente vai andando pela casa e vê que a pasta de dente está acabando, que o leite só dá para hoje, que o pão está vencido, etc. Se não anotamos nada, corremos o risco de voltar do supermercado sem os itens básicos para a casa funcionar. Clarice, mãe de dois filhos, mulher de diplomata, escritora famosa, não era diferente.
Em outro trecho da tal entrevista, ela fala também de seus livros e do rótulo de “hermética”. E conta, deliciosamente, que um professor de literatura de um colégio famoso no Rio disse que não conseguiu entender um de seus livros. Emenda revelando que o mesmo era o livro de cabeceira de uma moça de 17 anos, que a abordou para contar a história.
Saí da sala de exposição, depois de me deliciar com as cartas enviadas por e para Clarice, de gente como Rubem Braga, Lúcio Cardoso, Paulo Mendes Campos, Érico Veríssimo, direto para a livraria da Travessa do CCBB. Se a menina de 17 anos compreendia, já era a minha hora de comprar e tentar ler “A paixão segundo G.H. Para minha surpresa, o livro citado por Clarice no vídeo estava esgotado ali. Sinal de que muitos leitores, como eu, já estavam tentando penetrar ainda mais no reino das palavras da autora de “A hora da estrela”.
OBS: Esse texto também foi publicado no meu novo blog. Tentei escrever algo que valesse para os dois lugares, com o objetivo mesmo de linkar aqui no Caroço o meu novo endereço no mundo blogueiro. O Lameblogadas II ainda está em fase de arrumação e faxina geral, mas acho que já posso fazer o open house.
3 de out. de 2008
Que mistérios tem Clarice?
Assuntos:
* Cláudia Lamego,
impressões,
literatura
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Um comentário:
Que coisa...
Também fui na exposição e gostei muito. Saí dali com a firme intenção de ler "A paixão segundo G.H" Na livraria, tudo esgotado (foi ha um mês atrás). Comprei "A cidade Sitiada" Já desisti de ler.
Nunca deixei de pensar na compreensão da tal moça de 17 x a incompreensão do professor...
Em se tratando da Clarisse, várias das gavetas não abrem, vc deve ter reparado...
Mas, achei tudo tão bonito...
MRC
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