Depois de aproximadamente seis horas de viagem, partindo de Campina Grande, chegamos à pequena cidade de São José de Piranhas, situada no sertão da Paraíba, aos pés da Serra do Monte Horeb. São dez horas da noite, a temperatura é amena, os hotéis estão todos cheios, funcionários de uma empreiteira responsáveis pela duplicação das redes de transmissão elétrica ocuparam todos os lugares. Pego o telefone celular e tento ligar pra casa, não tem sinal. Damos uma volta pela praça, a cidade parece estar em “polvorosa”. Estamos em ano eleitoral e, em alguns dias, será instalada uma antena para celular. Não se fala em outra coisa. Cansados, fomos muito bem recebidos na casa de um amigo, Weggles.
Na manhã seguinte, depois de um farto café da manhã, conheço melhor a cidade. Uma grande praça em frente a Igreja, com direito a coreto,bares e tudo. A vida social da cidade está na praça. Um bom comércio, ruas limpas e organizadas. Mulheres bonitas em toda parte. A economia local gira em torno da agricultura, do funcionalismo público e de aposentadorias. Na produção agrícola destacam-se as culturas de arroz, fava, feijão, milho, gado. Com cerca de 20 mil habitantes a disputa eleitoral é acirrada, e como dizem por lá, “ tá quente como boca de caieira!”. Dia e noite, carros de som fazem propaganda para os três candidatos a prefeito, disputando numa “briga sonora” os ouvidos e os votos dos eleitores. Mas durante alguns dias, um carro com uma chamada diferente destacava-se dos demais, convidando os cidadãos a participarem do “Dia de Beneficiamento de Algodão Agro ecológico Colorido”, na comunidade de Lagoa de Dentro. Uma grande faixa colocada na entrada da cidade também dá destaque ao evento.
Desde 2003 foi instalada na comunidade de Lagoa de Dentro uma mini-usina para o beneficiamento do algodão que é produzido na região, tornando-se assim a "comunidade núcleo" de um pólo produtor que aglutina as comunidades de Pereiros (município de Bonito de Santa Fé), Sítio Barreiros (município de Cajazeiras), Redondo (em Cachoeira dos Índios) e Espinheiro (em Aurora - CE).
A cotonicultura vem sendo reintroduzida na região depois de anos de decadência, em decorrência do aparecimento da praga do bicudo e da abertura do mercado brasileiro à competitividade internacional na década de 90. A iniciativa partiu de um projeto do COEP (Comitê de Entidades no Combate a Fome e Pela Vida- www.coepbrasil.org.br) em parceria com a Embrapa, Chesf, UFRJ/Coppe. Um dos objetivos iniciais do projeto era geração de renda e agregação de valor ao produto na agricultura familiar.
O beneficiamento é um processo que permite que o algodão em rama seja separado em pluma e caroço, prensado em fardos e vendido diretamente para fábricas de fios, sem passar pelos atravessadores. Assim, alcança um preço melhor de mercado, deixando o lucro com os agricultores.
(Continua...)
Um comentário:
Historias de um Brasil que a gente desconhece.
Tenho uma duvida: recentemente li um artigo sobre producao de algodao e o consumo de agua. De acordo com esse texto, o algodao consome muito mais agua que outros plantios. Se isso eh verdade, nao eh complicado que o algodao seja plantado numa regiao que ja sofre com escassez de agua?
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