Já discutimos aqui no Caroço sobre a pirataria de CDs e DVDs. Como disse na ocasião, acho que as empresas de produção e distribuição de audio e video deveriam começar a pensar em novas formas de comercialização (como já fazem algumas gravadoras e como fazem artistas independentes) ao invés de continuar a fazer, contra a pirataria, campanhas terríveis (cada vez mais terríveis, diga-se de passagem. No caso dos DVDs, da questão ética do pai que pode, com a compra de materiais piratas, incentivar o filho a colar na prova, agora assistimos, antes dos longas-metragens, à relação da compra dos materiais pirateados com o tráfico de drogas, seqüestros e assaltos).
Alguns países já começaram a pensar na questão, e mesmo a implementar novas regulamentações para o setor, como mostra matéria feita pelo Globo on line e reproduzida por Simone Pereira de Sá no blog Labcult, para o qual contribuo menos do que deveria.
Vou colar a íntegra da matéria aqui e, "pirateando" o post da Simone, incentivar a discussão sobre a lei espanhola e sobre o tipo de lei que poderia ser implementada no Brasil.
Lei de direito autoral na Espanha abre espaço para 'salvar' ganhos de artistas na era digital
Publicada em 23/06/2008 às 08h49m Rodrigo Pinto - O Globo Online
RIO - A entrada em vigor na Espanha, na semana passada - após caloroso debate de 15 meses no parlamento - do chamado canon digital, pode iluminar o pobre debate em torno dos downloads e cópias ilegais no Brasil. Na prática, o governo espanhol determinou a taxação na compra de aparelhos tocadores de MP3 e MP4, celulares, pen drives e discos rígidos externos. O imposto recolhido será usado para pagar direitos autorais, cujo volume vem se reduzindo em todo mundo em função do abandono de mídias físicas - como o CD - como suporte para músicas, filmes e outros bens culturais.
Ao invés de coibir a chamada cópia privada como forma de garantir que consumidores continuem pagando direitos autorais na compra de CDs, por exemplo, o governo espanhol ampliou o recolhimento sobre itens de armazenamento e reprodução de arquivos digitais. O país europeu, assim, se colocou no córner oposto ao dos Estados Unidos, que defendem - e praticam - ações policiais e prisão de internautas que baixem arquivos sem pagar.
- Na Espanha, o imposto foi adotado para que se permita a cópia privada. Esse é um dos modelos que o debate brasileiro tem ignorado - sublinha Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, onde coordena a área de propriedade intelectual, e também diretor do projeto Creative Commons no Brasil.
Ronaldo lembra que, desde 1998, quando foi aprovada a nova lei de diretos autorais no Brasil, está proibida a cópia privada.
- Inclusive para fins educacionais e científicos. Este debate traria de volta a possibilidade da cópia privada e para estes fins, o que era permitido na lei anterior, de 73. Não podemos continuar só na base do pode, não pode - critica.
No recente - e vertiginoso - processo de migração dos consumidores para a internet, os autores são a ponta mais frágil. Houve, nos últimos anos, quem imaginasse que, diante da enxurrada de downloads ilegais e CDs piratas, seria difícil remunerá-los. Mas o canon digital espanhol traz novas possibilidades, inclusive a de provedores de acesso serem incluídos no rateio dos recursos que pagarão autores em tempos de arquivos digitais trocados em alta velocidade e de forma incontrolável.
- Tem gente que ganha muito dinheiro na internet e acaba se privilegiando da reprodução e dos downloads de conteúdo que outra pessoa criou. Nesse sentido, parece-me sensato que sites, provedores, patrocinadores, enfim, paguem direitos autorais - defende o compositor Roberto Frejat, parceiro de Cazuza, líder do Barão Vermelho (em recesso) e atualmente dedicado a seu trabalho individual.
Atualmente, já há tecnologia para rastreamento de downloads de arquivos digitais que permitiria a contabilização e o rateio - tal como é feito na execução em rádio - e a repartição por amostragem. Se, no dial, quem toca mais ganha mais, na troca de arquivo digital, que for mais baixado ou executado (no YouTube ou no MySpace, por exemplo) teria uma porção maior no rateio.
- Isso é uso inteligente da tecnologia, que poderia ser aplicada no lugar da ação policialesca - acrescenta Frejat.
O assunto é polêmico e requer, de fato, mais e mais debate. Na Espanha, durante os 15 meses de dicussão, associações de internautas e produtores de eletrodomésticos criticaram duramente o imposto - antes restrito a CDs, DVDs, impressoras e gravadoras de CD/DVD.
"É um imposto injusto, porque incide com o mesmo valor sobre o celular que custa 50 euros e o que custa 500 euros", criticou, em depoimento ao site do jornal "El País", Víctor Domingo, presidente da Associação de Internautas da Espanha. No entanto, associações de autores, de editores de livros e de produtores cinematográficos comemoraram a mudança na lei.
30 de jun. de 2008
Pirataria x novas formas de direito autoral
Mais sobre adaptação cinematográfica de romances
Para dar um pouco de continuidade ao post anterior: mês passado foi divulgada a data de estréia do filme Ensaio sobre a cegueira, adaptação do romance do português José Saramago pelo brasileiro Fernando Meirelles, 12 de setembro.
Estou fazendo um pouco do dever de casa jornalístico. Li o livro - que estava há um bom tempo na estante, esperando sua vez - e voltei a acessar o blog do diretor. É um blog muito instigante, embora a última atualização tenha sido em março. Lá estão uma série de questões que certamente passam pela cabeça de todo artista. Meirelles conta que já fez dez montagens do filme. Toda obra é feita de sucessivas escolhas, e muitas vezes o artista "dá à luz" um filme, um livro, etc. sem ter certeza de que optou pelas melhores opções.
Meirelles conta sem nenhuma falsa inocência que opiniões diversas interferem na montagem, desde opiniões de amigos até - ou principalmente - dos produtores da Miramax. As divergências sobre as cenas de violência sexual - que, no livro, são certamente as mais impactantes - já me fazem pensar antecipadamente se o filme não ficaria melhor com a violência mais explícita. No livro, são muito explícitas. E por isso são fortes. São cenas mais narrativas do que as outras, que são pontuadas da ironia ensaística do autor. E também alguns filmes maravilhosos têm cenas de sexo explícito, como O império dos sentidos. Mas esperemos o filme...
Uma última degustação: a reação de José Saramago à exibição do filme.
Onde andará Dulce Veiga? - o filme
Estava aguardando com bastante curiosidade a estréia de Onde andará Dulce Veiga?, filme de Guilherme de Almeira Prado baseado no romance homônimo de Caio Fernando Abreu. Primeiramente, algumas das razões para o interesse em uma adaptação desse livro para as telonas. O livro - um romance B, segundo Caio - é uma mistura de sofisticação literária e referências kitschs e cinematográficas. Além disso, ele faz parte daqueles livros do autor que se tornaram símbolos dos anos 80 (como "Morangos mofados"). E, também, Guilherme de Almeida Prado participou muito de perto do processo de criação, o que o gabaritava para a tarefa. (A interessante história desse processo criativo pode ser lida nesta matéria de Luiz Zanin Oricchio, do Estado de S. Paulo.)
O filme, no entanto, cai em muitos erros comuns ao cinema brasileiro e às adaptações de romances. Primeiramente, o roteiro padece de "literatice": muitas vezes, o texto foi passado diretamente para a fala dos personagens, deixando de lado o fato de que o diálogo deve ter características muito diferentes em literatura e em cinema. Além disso, muito da tensão (de certa forma, histórica) que Caio conseguiu produzir foi eliminada - ou simplificada. (Aqui, uma análise da revista Moviola sobre isso.) Do ponto de vista técnico, além da irregularidade dos atores, incomoda a edição de som, mesmo para um "filme B" - ou um filme que dialoga com os filmes B. A dublagem dos momentos em que Dulce Veiga (Maitê Proença) canta incomoda, quase tanto quando a inexpressividade dos momentos musicais de Márcia F. (Carolina Dieckmann) e do protagonista (Eriberto Leão).
E tem o final... Mesmo nesse ambiente incerto de sonho que o filme captou bem do livro, a cena final me parece uma redenção não merecida por uma história tão dúbia. Parece que aquela atmosfera ao mesmo tempo "kitsch" e "dark" da história de repente é transplantada para o capítulo final de uma telenovela.
Enfim, embora tenha momentos ótimos, principalmente aqueles em que consegue ser fiel aos temas caros a Caio Fernando Abreu (como o erotismo), o filme não consegue cumprir a tarefa às vezes hercúlea de adaptar um romance, mesmo que seja um "romance cinematográfico".
28 de jun. de 2008
Manipulação da informação, nem sempre bem feita
A gente não cansa de comentar como a chamada grande mídia manipula informações, esconde dados e fatos, privilegia abordagens de acordo com seus interesses econômicos e políticos. Para que isso tenha eficácia e os leitores continuem a confiar no veículo, essas estratégias têm de ser bem feitas. A escolha de abordagem, a ênfase maior ou menor em certos assuntos, a "opção" por "não mostar" certos índices podem até aparecer. O leitor vai entender que faz parte da linha editorial do jornal e filtrar a informação. Mas deixar transparecer a manipulação de dados pega mal, né?
Foi o que aconteceu no jornal O Globo de hoje. Na sua matéria pincipal.
Título: "Geladeira nova, nem sempre cheia"
Subtítulo: "Pesquisa do Ibase mostra que 54,8% dos que têm Bolsa Família enfrentam restrição de comida"
Lide: "Mais da metade das famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família, do governo federal, passa fome ou não tem quantidade de alimentos suficiente em casa. Pesquisa divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) traça um perfil dos inscritos e mostra que o padrão de consumo das famílias, por mais que enfrentem problemas para comprar comida, mudou. A transferência de renda serve, muitas vezes, como cartão de crédito para comprar eletrodomésticos, dada a regularidade dos depósitos."
Persongem (único) que ilustra a matéria: A dona de casa Clotilde Alves do Nascimento, de quem se diz: "Beneficiada no Piauí usa dinheiro para comprar geladeira, fogão e roupas".
Resumindo, o dinheiro do programa Bolsa Família, ao invés de ser gasto com alimentos, está sendo gasto com outros materias de consumo, com ênfase nos eletrodoméstico. Certo?
Não é isso o que os dados da pesquisa do Ibase dizem. O comportamento do dona Clotilde (e não quero aqui fazer qualquer juízo de valor, acho mesmo que dona Clotilde tem suas razões e seu direito de comprar geladeira, fogão e roupas) não é nem 1% do comportamento dos beneficiários do programa. Aliás, parece ser um comportamento tão raro que o índice não pode ser precisado. Os números da pesquisa estão estampados em gráficos no próprio jornal:
"De acordo com os titulares, o dinheiro do programa Bolsa Família é gasto principalmente com":
alimentação - 87%
material escolar - 46%
vestuário - 37%
remédios - 22%
gás - 10%
luz - 6%
tratamento médico - 2%
água - 1%
outras opções - menos de 1%
Diante desses índices, por que a ênfase na geladeira? Pegou mal - pro jornal. Pro leitor, matérias como essa tem uma função muito importante. Mostrar que a manipulação existe. Ou que o jornal pensa que seu público é burro.
27 de jun. de 2008
Com todo gás
Fico imaginando a dificuldade dos pais em educar seus filhos a ingerirem líquidos mais saudáveis. Os refrigerantes estão por todos os lados, nas ruas, nos bares, nas cantinas escolares, nos hospitais, nas bancas de jornais e nas prateleiras dos supermercados, obviamente. Embalagens coloridas e cintilantes. Quase lúdicas.
Dados da Abir (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não-Alcoólicas) revelam que os brasileiros consomem, anualmente, 66 litros de bebidas não-alcoólicas. Nesse rol estão, além de refrigerantes, os chás, sucos, energéticos, isotônicos e águas minerais.
O consumo médio diário de refri, no Brasil, é de 165 ml. A campeã disparada, segundo a AC Nielsen, é a Coca-Cola comum, com 37,3% do mercado. Depois vêm a Fanta Laranja, com 6,4%, Guaraná Antarctica (5,7%), Pepsi (4,1%) e Coca Zero (4%). Donde se conclui que, até nesse setor, somos engolidos pelas multinacionais. A Coca detém, absoluta, espantosos 50% do mercado nacional.
Um mercado disputado, que gera grandes lucros. Mas como ficam as empresas brazucas? Informações da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebas) dão conta de que, nos últimos cinco anos, cerca de 66% dos produtores de refrigerantes brasileiros deixaram de produzir, provocando a demissão de mais de 50 mil trabalhadores.
A explicação é que as multis ganham isenções fiscais, o que prejudica os nossos fabricantes. Nesse cenário, as marcas brasileiras perdem forças e se restringem aos mercados locais. É o caso de Xereta, Maracanã, Frutty, Fanny, Simba, Kareta, etc. Com mais expressão, marcas como Dolly e Schin ainda conseguem ir mas longe.
A força do Jesus
De cor rosa é sabor adocicado, o Guaraná Jesus, popular em São Luís do Maranhão, foi criado pelo farmacêutico Jesus Norberto Gomes, em 1920, época em que sequer havia refrigerante no País. Reza a lenda que a bebida surgiu acidentalmente, quando Gomes tentou sintetizar um remédio famoso na época utilizando uma máquina de gaseificação importada. Não se sabe ao certo a composição, mas dizem que há no refrigerante 17 ingredientes, entre eles ervas e produtos que o farmacêutico descobria em suas viagens pela Amazônia.
A família de Jesus manteve fábrica própria até o início de 1960. Os filhos que comandavam o negócio do pai farmacêutico partiram para São Paulo e a família decidiu vender a fábrica - mas não a marca - para a Antarctica. Naquela ocasião, os Gomes acusaram a empresa de adulterar e boicotar o produto, iniciando então uma briga judicial. O contrato foi rompido, mas a família ficou sem fábrica para produzir a bebida.
Por isso, o Jesus ficou sete anos fora do mercado até ser vendido, em 1980, para a Companhia Maranhense de Refrigerantes, que já tinha licença para fabricar e distribuir a Coca-Cola no Estado. Embora seja distribuído apenas no Maranhão, o produto pode ser encontrado na Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e em outros pontos específicos escondidinhos pelo Brasil.
26 de jun. de 2008
Muito mais que um sonho
Parecia um sonho. Mas felizmente foi real. Um governo genuinamente socialista encheu de esperança um país e a América do Sul. À frente, coincidentemente mais um médico. Um líder que desejava um governo voltado para a educação, um país independente do capital estrangeiro exacerbado, uma "via chilena para o socialismo". O sonho se tornou mais real quando ele nacionalizou as minas de cobre, que eram brinquedinho de multinacionais, e os bancos. E o incrível: dividia os lucros com os funcionários.
Em sua breve passagem, mais realidades: a inflação caiu, o poder aquisitivo aumentou, a economia também. Tudo em um âmbito democrático e limpo. Foi demais para o império do norte. Na seqüência de horror, corrupção, roubalheira, imundice e assassinatos que varriam o continente, o sonho real se tornou pesadelo. A onda paranóica para servir a interesses do outro hemisfério se fez presente com bombas e homicídios dele, de 7 mil conterrâneos, de um país, de um continente.
Hoje, Allende faria aniversário. A lembrança desta data e deste homem em jornais e sites, porém, comprova que, sem dúvida, não foi um sonho. Foi real. E pode ser real novamente. E está sendo real por aí. Basta não deixar o pesadelo que vem lá de cima fazer crer que tudo não passa de sonho.
Equipe da UFRJ sobe no pódio mais uma vez na Holanda
Brasileiros já ocupam a quarta posição geral da Frisian Solar Callenge
No fim desta quarta-feira, a equipe do Pólo Náutico da UFRJ, que participa da Frisian Solar Challenge, na Holanda, subiu no pódio mais uma vez. O piloto Rafael Coelho fez os 32km do percurso Stavoren - Bolsward em 3 horas e 20 minutos, chegando em terceiro lugar, repetindo o desempenho do dia anterior e garantindo o quarto lugar geral da competição que envolve outras 48 equipes, todas européias.
A Frisian Solar Challenge é um rali de barcos solares, projetados e construídos pelos próprios participantes, e caracteriza-se como uma forma de divulgar e popularizar fontes alternativas de energia para embarcações, que costumam utilizar motores de combustão.
No site oficial da Frisian Solar Challenge, o time carioca chegou a ser definido como o exótico do samba brasileiro. Em matéria do dia 11 de junho, a Agência de Notícias Holandesa (Dutch National Press Agency), com um certo tom de desdém, disse que a equipe da UFRJ não era de encher os olhos no quesito tecnologia, mas certamente chamava a atenção por ser a única não européia da competição.
Nos três dias que precederam o início oficial da competição, no domingo, dia 22 de junho, os barcos e os pilotos de todas as equipes passaram pela inspeção técnica classificatória da corrida. Foram avaliados os cascos, os circuitos elétricos e os itens de segurança das embarcações. Para os pilotos oficiais e seus suplentes, houve testes de natação e manobra.
No domingo, a equipe saiu em décimo primeiro lugar, posição conquistada depois de duas provas para definir a largada: uma primeira de 10km, a qual deveria ser realizada no tempo limite de uma hora e 15 minutos, que o Copacabana completou em 1h04m, e também um teste de sprint, em um percurso de 70 metros, com velocidade máxima. Algumas equipes voltaram para casa. Após a prova, devido aos fortes ventos, o Copacabana virou e teve que ser resgatado pela equipe de terra. No acidente, o barco perdeu um dos painéis solares, o qual foi reposto pela organização da Frisian.
Na segunda-feira, depois de uma noite de trabalho reparando o sistema eletrônico e instalando o novo painel solar, a equipe Copacabana estava de pé às sete da manhã, pronta para a última fase de inspeção técnica, marcada para as 11h30 da manhã, horário local. Felizmente para a equipe, o tempo não havia melhorado. Devido aos ventos fortes e a chuva em Leewarden, os organizadores decidiram adiar o início das provas para as 15h, dando mais tempo para a equipe brasileira testar melhor o sistema já reparado.
Na perna de segunda-feira, os barcos percorreram o trecho de 25 km entre Leewarden e Sneek. Chegando na cidade destino, um outro desafio: os canais do local são cruzados por muitas pontes baixas que os pilotos dos barcos optavam por evitar ou atravessar, o que exigiu um trabalho de estratégia de navegação e criatividade das equipes de terra. Nesta primeira perna da competição, Leewarden-Sneek, o Copacabana completou em sétimo lugar.
Na terça-feira, na segunda perna da competição, nos 42 km de canais entre Sneek e Stavoren, os brasileiros concluíram em terceiro lugar, atrás apenas do barco polonês de Gdansk e do holandês de Groningen. O Copacabana manteve a velocidade de 10km/h e completou a perna em 4 horas, 17 minutos e 45 segundos. A embarcação se beneficiou de um trecho de sombra do canal, de 20 minutos, que fez cair a velocidade das embarcações. Os motores mais potentes precisam de mais energia e, sem poder captar a energia solar pelos painéis, rapidamente consomem suas baterias extras. O motor do Copacabana, mais econômico, permite um uso de 30 a 40 minutos de bateria mesmo na sombra.
O time subiu pela primeira vez no pódio na terça-feira, no camping de Stavoren, onde foram parabenizados pela organização da competição e pelo prefeito da cidade.
A Frisian Solar Challenge começou no dia 21 de junho e termina no próximo sábado, dia 28.
***
Mais sobre a Frisian no blog da Equipe Copacabana.
Paixão gay
Título de matéria no site G1, editoria São Paulo/Polícia:
"Paixão gay pode ter motivado seqüestro de mãe, diz polícia".
Minha opinião: sensacionalismo barato. Paixão é paixão, não importa a que sexo pertencem as duas partes.
Aliás, já repararam como o G1 adora dar destaque para matérias sobre homossexuais?
24 de jun. de 2008
Indiferença

23 de jun. de 2008
Vitalidade marginal, poesia biotônica
Em 1976, saía das entranhas da imprensa alternativa um jornal de contracultura cheio de talentosos porralocas. Seu nome: Almanaque Biotônico Vitalidade. Na capa, as caras de vários “bichos-grilos” -- aos quais talvez ninguém desse o mínimo crédito. Lá dentro, 40 páginas de poesia, experimentos textuais e viagens gráficas.
No editorial-apresentação, escrito em verso (como não poderia deixar de ser), comparecia a disposição para energizar o marasmo e fazer brilhar vida num tempo em que a ditadura sombreava tudo com morte (embora se dissesse em processo de “abertura”)[1].
"(...) essência de energia pura,/o biotônico vitalidade/é composto de raízes,/folhas e frutos plenos./(...)/É muito eficaz nos casos de desânimo geral.
Seguindo a estrutura de uma bula de um remédio bom para a cabeça, o editorial apresentava indicações, contra-indicações e posologia. Almanaque Biotônico Vitalidade era indicado, por exemplo, “contra a inércia, contra a lei da gravidade, contra a contrariedade”. E ainda, confirmando sua vocação, “contra a cultura oficial”. Um remédio que “não deve ser ministrado àqueles que propõem a morte como única forma de vida”.
Os “médicos” formavam o grupo Nuvem Cigana, que trazia nomes como Torquato Neto, Chacal, Charles e outros que passaram para a história como “poetas marginais”. Um “jornal”, uma “revista”, sei lá qual rótulo, que trazia “notícias” que não caducam, como a que foi publicada na página 7, autoria de Torquato Neto.
"o Rio é lindo/ o pão daqui é uma pedra de/açúcar,/a carne não sangra o corte não/dói/tudo se esquece/o morro está infestado de bandidos/e ratos/tem um quartel da polícia no/fim da escadaria/à direita/que jeito?!/o nome é Santa Marta/um beijo"
E lá se vão 32 verões.

[1] Não esquecer que Herzog foi “suicidado” em outubro de 1975 e o operário Manuel Fiel Filho torturado e morto no início daquele ano de 76.
PS1:
Há, se a memória não me trai, dois exemplares encadernados do Almanaque para consulta no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, que mantém um bom acervo de imprensa alternativa. Um material que vale a pena conferir.
PS2:
Topei com alguns links na internet que levam a algo mais sobre o assunto:
Poesia na Rede
19 de jun. de 2008
Descobertas da semana
O "pedinte", além de ter criado a página, está espalhando nos comentários de blogs a seguinte mensagem: Por favor, visite o meu blog. Há uma razão especial para isso. Obrigado.
É a e-esmola na blogosfera! Será que alguém daria um único centavo pro Caroço? Detalhes da minha conta bancária em breve.
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E do meu amigo Freakonildo a melhor sugestão da semana. Nas palavras do próprio "agora teremos tv no quarto, na cozinha, no banheiro"! Já estou usando e funciona muito bem.
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Shake that thing!
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Tudo que voce precisa para encarar um dia frio e cinza com "bom" humor.
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Algo me diz que telefone celular não deve fazer bem...
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Em tempos de smoking ban e vida mais saudável, por que não tentar?
Promiscuidade machadiana
Quizz
1 – Propaganda de esmalte.
2 – Um novo grupo musical que se apresentará na Lapa.
3 – O começo de um movimento feminista (nesse caso, a imagem representa o controle da mulher sobre o próprio prazer e o próprio sexo).
4 - O pré-lançamento de novo produto ginecológico.
5 – Uma expressão artística contemporânea.
6 – Propaganda de sex-shop.
7 – Propaganda de puteiro.
18 de jun. de 2008
Folia às pampas!
O clássico pode ser pop e bem vagabundinho...
Este boyzinho oriental aí ao lado é o pianista chinês Lang Lang. Tem 25 anos, é mundialmente famoso (ok, a fama na música clássica é relativa) e já está rico. Particularmente gosto dele, e aqui não vai nenhuma consideração crítica, mas adorei conversar com ele, numa entrevista há dois anos e seu concerto aqui no Rio foi bem interessante, embora não tenha sido considerado 100% pela crítica.
Chegou hoje às minhas mãos, distribuído pela Universal Music, o novo CD do astro lançado pela Deutsch Grammophon. Diferentemente da música pop, os artistas clássicos não saem com discos de inéditas assim tão fácil. A música dos compositores vivos é um capítulo à parte no meio. Por isso é preciso sempre caprichar na performance para o novo álbum não seja considerado apenas mais uma gravação, entre tantas, de concertos de Tchaikovsky, Beethoven, Mozart, etc. Apesar de Lang Lang ser uma estrela - sim, ele é - e apesar de sua gravadora ser a mais bem conceituada para este gênero musical, o disco não passa de uma coletânea bem safada, mal-cuidada. Este selo gasta os tubos em marketing, com contratos com artistas importantes, a falta de capricho com o produto é desnecessária. Uma atochação. Traz peças curtas ou parte de obras maiores, como concertos para piano e orquestra, de compositores de diversos estilos e épocas. Tudo misturado, sem qualquer unidade artística, a não ser exibir a virtuose do intérprete. Tem música para todos os gostos. Nas faixas em que o pianista está acompanhado de orquestra, não é possível saber com qual orquestra está tocando - se é a Filarmônica de Berlim ou algum conjunto obscuro do leste europeu - nem que maestro está regendo. É como comprar um disco de um cantor e não encontrar nenhuma informação sobre a banda que o acompanha no encarte.
Talvez nem todo mundo preste atenção nestas informações, mas não é por isso que a gravadora vai omitir. Além disso, o disco traz uma gravação caça-níquel de Lang-Lang com Andrea Bocelli!. Não há nada mais picareta - e brega - que Andrea Bocelli, vamos combinar que nem bom cantor ele é. Não se justifica para mim ele ter se tornado quase um Pavarotti em termos de prestigio, vendagem... Por isso, vamos tirar os saltos altos na hora de falar de música clássica e seus representantes, principalmente os estrangeiros, achando a maior erudição do mundo, coisa de intelectual. É uma indústria com suas particularidades, mas como o pop, o rock, o r&b, também pode servir ao entretenimento e ao apelo fácil do mercado.
16 de jun. de 2008
48 horas de alienação na "sociedade da informação"
Desesperançar
13 de jun. de 2008
Contra o câncer de colo de útero
UFRJ participa de rali tecnológico na Holanda
Eu amo
1º lugar – “eu amo”, escrito por 58.638 pessoas.
2º lugar – “eu quero”, escrito por 48.309 pessoas.
“Eu odeio”, repetido apenas 15.141 vezes, está na lanterninha.
Caroço de Pequi para bocas imprudentes
Legenda
Legenda de uma foto no site G1, em galeria sobre casais no Dia dos Namorados: "André Piva e Carlos Tufvesson estão juntos há 15 anos. Fato raro no meio gay".
Verdade ou preconceito?
Quando a arte atrapalha a sua vida
12 de jun. de 2008
Coração imprudente
O quê que pode fazer
Um coração machucado
Senão cair no chorinho
Bater devagarinho pra não ser notado
E depois de ter chorado
Retirar de mansinho
De todo amor o espinho
Profundamente deixado
O que pode fazer
Um coração imprudente
Se não deixar um pouquinho
De seu bater descuidado
E depois de cair no chorinho
Sofrer de novo o espinho
Deixar doer novamente
Príncipe do samba, Paulinho da Viola enche a alma de lirismo nas noites de dança da solidão...
Para celebrar o Dia dos Namorados...
...aí vai uma homenagem ao meu amor Julian Casablancas, que está um arraso (como de costume) cantando com Santogold e N.E.R.D.
Mulher-banana
Da série Impressões: Solidão
11 de jun. de 2008
Obra em progresso
Para quem quer curtir as sempre bem calculadas alfinetadas do Caetano Veloso, que sempre nos fazem pensar e aprender algo, vale a pena visitar o "blog-vídeo" www.obraemprogresso.com.br. Mais inteligente e divertido que nunca.
Orgulho academico e carioca
10 de jun. de 2008
Maré - Adriana Calcanhotto
É bem difícil examinar com proximidade o novo disco de Adriana Calcanhotto mais que ela própria fez em seu site. (Ainda falo disco, em vez de CD, que já está ultrapassado...)
Neste CD (que, embora tenha a novidade de uma formação quase de banda - com o grupo +2 -, ressoa todos os outros de Calcanhotto), ela conseguiu que uma leve imagem unisse todo o disco, talvez por isso o mais bem acabado. Essa ligação entre as músicas ela mesma sugere quando denomina o CD de "Maré". Se os outros discos possuem músicas mais fortes, como "Mentiras", "Esquadros", "Cariocas", "Vambora", "Metade" e "Cantada", neste fica evidente aquilo que é possivelmente o principal diferencial da artista (não apenas cantora ou compositora): a união inteligente entre a palavra poética e a música.
Sem querer entrar na falsa questão de se letra de música é ou não poesia, vemos em "Maré" diversas possibilidades do uso da palavra poética conjugada com música. Temos desde "Um dia desses", poema de Torquato Neto musicado por Kassin, até "Sargaço mar", possivelmente a música mais poética de Dorival Caymmi. Entendam o "poético" aqui por aquela definição mais comum: a palavra que problematiza seu próprio significado. A letra de "Sargaço mar" é desses momentos em que a palavra mostra que pode significar mil coisas além dos significados comuns: "Quando se for/ esse fim de som/ doida canção/ que não fui eu que fiz/ verde luz verde cor/ de arrebentação/ sargaço mar/ sargaço ar". A bela passagem do sonoro (fim de som) para o pictórico (arrebentação) tem um efeito multiplicador sobre a palavra "verde" - certamente um dos momentos mais bonitos (e talvez mais difíceis) do cancioneiro de Caymmi.
Cabe ainda dizer que a ligação entre este disco e os anteriores se faz não apenas pelos timbres - e principalmente pela batida do violão de Calcanhotto -, mas também pelo que parecem ser citações de músicas anteriores. "Maré", que abre o CD, inicia com uma bateria que lembra o início do disco "Adriana Partimpim"; o violão e a vocalização da introdução de "Mulher sem razão" lembram a música também de Dé Palmeira, Bebel Gilberto e Cazuza que ela havia gravado em "Maritmo", "Mais feliz".
"Maré" também recupera "Maritmo" no título, mas a referência ao mar assume uma ressonância muito maior, não só por estar mais presente no disco como pela expansão de significados. Em "Maritmo" o mar era identificado a um lugar (além do Caymmi de "Na beira do mar", o Rio de Janeiro da música "Maritmo"). Agora, aquilo que é líquido (o mar) assume outros sentidos, como a distância ("A uma hora dessas/ por onde passará seu pensamento/ Por dentro da minha saia/ ou pelo firmamento?") e o desejo ("Só meu sangue sabe tua seiva e senha/ e irriga as margens cegas/ (...) sendas de tuas grutas ignotas"), mas, como na música "Maré", no final a certeza é de que o mar de Calcanhotto "é só linguagem".
*
P.S.
Acho que isso foi o que mais me marcou da audição do disco, mas é bom destacar o "tango moderno" de Marina Lima e Antonio Cicero "Três", num clima parecido com "A outra", do Marcelo Camelo; e a recuperação da música "Mulher sem razão", da qual eu não me lembrava. Quando comecei a ouvir a gravação desta música em "Maré", a melodia de "Sem aviso", de Fred Martins e Francisco Bosco, que a Maria Rita gravou, vinha à minha mente junto com o primeiro verso ("Saia desta vida de migalhas") .
foto: Leonardo Aversa (copiada sem autorização do site de Adriana Calcanhotto)
9 de jun. de 2008
De volta ao Pantanal!!!
Navegando no site, temos acesso às aberturas de todas as novelas da emissora, além de uma sinopse detalhada das histórias, depoimentos de atores, curiosidades e fotos. É pouco, se pensarmos que no youtube encontramos a cena da famosa briga entre Joana Fomm e Sônia Braga no último capítulo de Dancin' Days (coisa que o site da Globo ainda não pôs à disposição), mas muito se tentarmos procurar por aí mais detalhes sobre a dramaturgia da TV.
Para os fãs novatos de Big Brother Brasil, que viram só o último e se lamentam por ter perdido os primeiros (estou entre eles, faço a confissão pública), estão lá imagens e informações sobre todas as edições do programa.
Outra curiosidade são as reportagens do Jornal Nacional veiculadas na íntegra. Quem quiser rever o JN do dia do impeachment do presidente Fernando Collor, ele está lá. Revendo o programa, lembramos que o Renato Machado, hoje apresentador do Bom Dia Brasil e especialista em vinhos do programa culinário do Claude Troisgros, era setorista do Palácio do Planalto. Podemos perceber também que já naquela época, o Pedro Bial arriscava seus versos em cadeia nacional, cobrindo as manifestações em Brasília. Délis Ortiz e Heraldo Pereira, hoje comentarista político, já estavam na cobertura política, mas a repórter ainda não podia usufruir dos poderes do formol e da escova progressiva.
Tentei ver o JN da posse do Lula (outro dia, a amiga Helena Aragão me perguntou se no Globo haveria alguma cópia do programa. Será que ela conseguiu achar algum petista por aí que tenha gravado?), mas as imagens ainda não estão disponíveis, embora haja um resumo escrito da cobertura naquele dia. Nem todos os links funcionam, mas é de se esperar que o projeto tenha andamento e que, aos poucos, comecemos a ter acesso a mais e mais imagens (isso é verso de música, não?).
Outra coisa interessante é que o site pôs um link para os lances polêmicos da emissora, aqueles que estudamos nas faculdades de jornalismo. O caso Proconsult, a edição do debate Lula-Collor, o caso Time-Life, a cobertura das Diretas-Já. Estão todos lá, com imagens e uma tentativa de argumentação de defesa da emissora. Vale muito a pena ver, e criticar de novo.
Exposição Fotográfica Olho Vivo - 5 anos
Cinema-mulherzinha
6 de jun. de 2008
DICAS CULTURAIS
Nesse fim de semana temos algumas opções culturais bem bacanas
Dêem uma olhada:
- Festival de Teatro da Língua Portuguesa: http://www.talu.com.br/festlip
De 4 a 15 de junho o evento reúne grupos de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Portugal e Brasil e promove o intercâmbio cultural com exposição, oficinas teatrais, palestras, leitura dramatizada, mostra gastronômica e musical.
- Rio Folle Journée: http://www.riofollejournee.com
Uma maratona de música clássica em vários teatros da cidade com ingressos de R$ 1 a R$ 5. Este ano o festival homanageia o compositor Beethoven.
Leia o Post de uma coleguinha que foi a abertura da programação e ficou impressionado.
Bom, eu nunca vi a série, mas como quase toda mulher moderna caiu de joelhos ao ver Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha, ok, vou ver o filme. A quem interessar, neste link tem uma entrevista com Sarah Jessica Parker, protagonista e produtora do longa.
- Maratona Odeon BR
Hoje é dia de Maratona na Cinelândia. A festa já é velha dos cariocas e, continua uma boa oportunidade para dançar, ver alguns filmes bons, conhecer gente bacana e ainda tomar um café da manhã numa das salas de cinema mais lindas do Rio. Para saber sobre a programação clique aqui.
- Orquestra Conteporânea de Olinda
O grupo é o encontro de músicos de diferentes gerações que estudaram liguagens diversificadas da musica pernambucana, ou seja, brasileira. Criada em meados de 2006 por Gilú, apelido do percurssionista Gilson do Amaral, a Orquestra tem a especial finalidade de criar novas concepções sonoras. Quem estiver interessado entre no myspace dele para entender melhor.
Show de lançamento do CD de estréia será neste sábado, 7 de junho, às 22h, dentro da programação da festa Ronca Ronca, no Estrela da Lapa.
Nos veremos por aí ;o)
Semente de Conto - EPIFANIA TRICOLOR
Quatro minutos do primeiro tempo. As oitenta mil cabeças submersas na forma oval assistiam, extasiadas, ao vaivém de bolas amarelas no gramado. As mãos se encontraram na tentativa de alcançar o balão vermelho. Veio a nuvem de arroz e ele lhe ofereceu a camisa para proteger o rosto. O suor brotou farto pela testa até alcançar a virilha. A bandeira tricolor desceu inteira sobre os dois, protegendo-os de si mesmos. Doze minutos do segundo tempo. Inconsolável, ele caiu. Ela lhe devolveu a camisa, cobriu suas costas com as mãos. Os seios roçaram o braço direito. As pernas trepidaram e as línguas se encontraram. Dezoito minutos, gol de Washington. Os mamilos encontraram o peito de frente. Morderam-se os lábios em profano silêncio. Nova nuvem de arroz e o corpo inteiro ficou anestesiado. Vinte e seis do segundo. Conca, Conca, Conca, e as mãos encobriram toda a cintura, dedos já na altura do ventre. O espaço entre o vão das pernas dele ganhou forma, ela ardia por dentro. Faltou-lhes o ar. Quarenta e sete. Dodô! O manto tricolor caiu sobre as cabeças e se amaram ali, na íntima comunhão de um Maracanã lotado.
Acontecimentos reais.2

Foto: Keryllyn de Souza
Seu marido teima em lhe dar explicações científicas ou, ao menos, plausíveis, para as coisas estranhas. Trouxe, certa vez, um recorte de jornal que falava de uma espécie de formigas - a Faraó ou Monomorium pharaonis - que procuravam lugares na casa onde pudessem se aquecer, como os aparelhos eletrônicos. Logo, concluía o marido, as formigas entravam na garrafa de café em busca do calor.
Sobre os livros, ele jurava que a mulher era sonâmbula e que lia nas madrugadas, no sofá, embora ela não se lembrasse de nada e o marcador continuasse na mesma página em que ela havia interrompido a leitura antes de dormir. A certidão, obviamente, foi comida por traças, as traças de livros da espécie Acrotelsa collaris (Fabricius), que gostam de papel com cola, como a certidão que havia sido desprendida de um livro de anotações de bebê.
Um dia, ela olhou no espelho, mas viu a imagem de outra mulher. Chamou o marido. “Quem você está vendo ali?” “Ora, você”, respondeu o homem. “Não, não sou eu. É outra mulher. Agora me explique essa coisa estranha”. Diante do espanto do marido, desafiou: “Então descreva, detalhadamente”. O marido expôs minuciosamente os traços, contou as rugas, filosofou sobre a textura da pele e os desenhos do cabelo.
Dessa vez, ele não conseguiu solucionar o mistério. O que suas palavras descreviam era a outra mulher.