Uma rede de restaurantes e lanchonetes do Rio de Janeiro resolveu transformar as eleições em tema de suas toalhas de mesa. A frase diz: "A Parmê homenageia a democracia e deseja sucesso ao nosso futuro prefeito. Vote consciente!"
Não sei quais foram as reais intenções do restaurante. Mas, a imagem dos nossos felizes candidatos sugerem mesmo que, não importa quem esteja no poder, vai tudo acabar em pizza.
A comida não me caiu bem...
31 de out. de 2008
Tudo vai acabar em pizza?
29 de out. de 2008
A teus pés
Ontem já havia me lembrado dela, sem nem desconfiar que hoje é aniversário de sua morte. (Não consigo guardar datas.) Lembrei-me quando, num pequeno intervalo de 30 minutos, no meio da tarde e não sem motivo, fui tomada por sentimentos diferentes e contraditórios, de uma intensidade tão grande que precisei anotá-los no caderninho azul:

Vacilo da vocação
Precisaria trabalhar - afundar -
- como você - saudades loucas -
nesta arte - ininterrupta -
de pintar -
A poesia não - telegráfica - ocasional -
me deixa sola - solta -
à mercê do impossível -
- do real.
Sexta-feira da paixão
Alguns estão dormindo de tarde,
outros subiram para Petrópolis como meninos tristes.
Vou bater à porta do meu amigo,
que tem uma pequena mulher que sorri muito e fala
pouco, como uma japonesa.
Chego meio prosa, sombras no rosto.
Não tenho muitas palavras como pensei.
"Coisa ínfima, quero ficar perto de ti".
Te levo para a avenida Atlântica beber de tarde
e digo: está lindo, mas não sei ser engraçada.
"A crueldade é seu dilema..."
O meu embaraço te deseja, quem não vê?
Consolatriz cheia de vontades.
Caixa de areia com estrelas de papel.
Balanço, muito devagar.
Olhos desencontrados: e se eu te disser, te adoro,
e te raptar não sei como dessa aflição de março,
bem que aproveitando maus bocados para sair do
esconderijo num relance?
Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?
Beware: esta compaixão é
é paixão.
28 de out. de 2008
O Haver
Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
15/04/1962 - Vinícuis de Moraes
A poesia acima foi extraída do livro "Jardim Noturno - Poemas Inéditos", Companhia das Letras - São Paulo, 1993, pág. 17.
26 de out. de 2008
Vida que segue
Terá cura a ressaca eleitoral?
Pois, além de termos que digerir Eduardo Paes até 2012, ainda tem a constatação de que venceram os panfletos apócrifos, a imundice nas ruas, as pegadinhas nos debates, os “militantes” contratados.
Fica uma sensação de Copa de 82. Do futebol de Sócrates, Zico, Falcão e cia. que não foi páreo para a Itália de Paolo Rossi. Depois daquilo, a eficiência da defesa ganhou importância, ditando o padrão do futebol que passou a ser praticado em todo o mundo. Jogar feio deixou de ser pecado, afinal, poderia render um troféu.
“Que nem nossa seleção de 94”, sublinhou a mãe do Francisco (agora tomando parte das discussões futebolísticas!), ontem à noite, durante minha torcida para que o "modelo Paes" de campanha não vingasse.
Para não dizer que só falei de flores, a campanha de Gabeira também teve seus Chulapas, a começar pela canelada na vereadora Lucinha (que marcou o início da campanha no 2º turno). Aind'assim, é um tanto precipitado atribuir a derrota à frase infeliz do candidato verde, até porque frases infelizes não faltaram ao prefeito eleito...
Alguém aí tem um Engov?
PS: A foto do pôste, de Reginaldo Manente, ilustrou a primeira página da Folha da Tarde em 6 de julho de 1982 - dia seguinte ao Itália 3 x 2 Brasil da Copa de 82. Mais sobre a foto aqui.
25 de out. de 2008
Lembranças de Glauber
Em 2001, quando comecei a pesquisar sobre a trajetória de Glauber Rocha como jornalista na Bahia, nos anos 50 e início dos 60, procurei o Tempo Glauber. Já tinha ido à Biblioteca Nacional e aos arquivos da Cinemateca do MAM, mas, nesses lugares, não achei os textos raros do cineasta, dos quais sabia da existência por meio da biografia escrita pelo jornalista João Carlos Teixeira Gomes. No templo, que já tinha visitado para entrevistar Lúcia Rocha (para o Caroço!!!), estava quase indo embora, certa de que não teria acesso a nada, quando a mãe de Glauber, de repente, me deu um voto de confiança - não sem antes perguntar se eu não tinha "interesses comerciais" na obra dele. Não, eu só queria fazer uma monografia bem feita para a faculdade.
Na verdade, ela passou a confiar em mim depois que eu citei vários textos de Glauber que tinha encontrado na Biblioteca Nacional, mostrando que havia copiado tudo à mão e que seria um trabalho descomunal continuar utilizando esse método braçal de pesquisa. Também contei a ela que tinha uma cópia de um livro raríssimo de Glauber, que nem mesmo ela tinha mais, dado que não era editado há anos e anos. (A minha cópia era da biblioteca da UFF e ela me agradeceu muito quando levei uma para ela. Hoje, o livro "Revisão crítica do cinema brasileiro" já tem uma edição digna de sua importância)
Aí, Lúcia Rocha me levou numa espécie de subsolo do casarão, abriu uma porta e, em seguida, vários armários. "Está tudo aí", me disse com o olhar ainda desconfiado. O "tudo" eram os textos que Glauber tinha escrito na imprensa baiana, inclusive em jornais alternativos da capital, incluindo aquele que ela considera seu segundo texto, publicado quando ele ainda era um menino de calças curtas - mas com idéias já em ebulição.
Abri os armários e o que encontrei foi um arquivo minuciosamente organizado ("eu trabalhei como arquivista no MIS"), com o carinho da mãe que catava desenhos e manuscritos no lixo, antevendo a importância de guardar a memória daquele que se tornaria um dos mais influentes cineastas do país nos anos seguintes. Fiquei horas lá (naquele tempo, tinha saído do estágio e me dedicava à pesquisa, tempo bom), impressionada e até com um tico de medo de não dar conta de ler tudo. Mas, tia Lúcia foi generosa: me confiou os textos originais e me indicou uma papelaria na Voluntários da Pátria que tirava cópias. Atravessei a Sorocaba com o tesouro nas mãos, morrendo de medo de, sei lá, bater um vento e ver ir embora pelo ar.
Voltei no Tempo Glauber muitas outras vezes. Numa delas, tia Lúcia me vendeu um exemplar do livro "Riverão Sussuarana" com dedicatória do próprio Glauber para ela. Liguei para dizer do engano e ela respondeu: "Está em boas mãos".
Naquela época, o casarão vivia a duras penas, apenas com a força da mãe, já octogenária, que administrava tudo a mão de ferro. Mas, desde então, livros e filmes de Glauber foram reeditados. O acervo do cineasta, digitalizado. O Tempo Glauber tem pesquisadores, cursos, produtos à venda. Não vou lá há muito tempo, não sei se as dificuldades financeiras se mantêm. Mas, uma boa notícia chegou essa semana: o site está atualizadíssimo, com fotos, documentos históricos e vídeos (tem trechos do famoso programa "Abertura").
É uma felicidade testemunhar esse avanço. Fica a dica para uma visita.
P.S.: Outro dia, estava na portaria do meu prédio e vejo sair uma moça com o rosto muito conhecido. Olhei tanto que ela deve até ter se assustado. Quando passou, fui até o porteiro e perguntei: "Essa moça que saiu agora mora aqui no prédio"? "Mora", confirmou. "O nome dela, por acaso, é Paloma?". "É, sim". Nesse dia, descobri que era vizinha da filha de Glauber, Paloma Rocha. E saí cantarolando: "Se entrega Corisco, eu não me entrego não!"
22 de out. de 2008
20 de out. de 2008
CAROÇO entrevista: Lynn Lund
Semanas atrás, comentei aqui sobre o filme interativo online The Outbreak, meio que numa piada sobre ele ser um guia de sobrevivência visual no caso de um ataque de zumbis real. No entanto, achei a idéia muito interessante: agora que se discutem as possibilidades de interatividade pela TV digital e como a internet pode auxiliar na distribuição de produtos culturais, seria este um passo natural na evolução do entretenimento?
Fiz, por e-mail, uma entrevista com Lynn Lund, produtora do filme (na foto ao lado, com Chris Lund, diretor do filme e seu marido). Ambos trabalham na agência de publicidade Silk Tricky, em Portland, Oregon, EUA, especializada em comerciais online interativos. Segundo ela, o mercado para filmes interativos é bastante promissor.
Quando o filme foi feito?
Ele foi rodado em abril de 2008 e a versão final e o site lançados em 20 de setembro.
Quem participou da realização?
Contratamos equipe e elenco locais de Portland, Oregon. A lista completa de créditos pode ser acessada pelo link "credits" em www.survivetheoutbreak.com.
Existem outros projetos semelhantes em desenvolvimento?
Temos algumas idéias sobre como levar este conceito a um nível adiante de interatividade, mas nada está sendo desenvolvido no momento. Estamos de volta a nossos "trabalhos oficiais" como designers de web e interatividade até terminar de planejar o próximo filme. Tomara que desta vez consigamos alguma espécie de financiamento e não tenhamos que fazê-lo do nosso bolso.
Qual seria esse "outro nível de interatividade"?
É segredo! Não podemos deixar ninguém nos passar a perna. :) Você vai ter que ficar de olho.
De onde vocês tiraram a idéia de fazer um filme interativo?
Já havíamos feito diversos projetos interativos para nossos clientes envolvendo vídeo e web mas nunca neste nível. Então pensamos, por que não fazer um projeto para nós mesmos que casasse nossas duas paixões, filme e web?
Por que um filme de zumbis?
Optamos pelo terror porque achamos que é um gênero que se presta perfeitamente para este tipo de filme interativo. Quando sua vida está em jogo, como num filme de terror, os riscos não poderiam ser mais altos. Queríamos que as pessoas realmente se sentissem imersas e "vivessem" um cenário com o qual nunca estiveram cara-a-cara.
Você acha que filmes assim podem ainda ser assustadores (como Renascer dos Mortos e A Noite dos Mortos-Vivos já foram) ou os espectadores de hoje os acham muito bobos?
Acho que filmes assim podem ainda ser assustadores, porque você não estaria apenas assistindo da segurança do seu sofá ou do cinema -- suas ações afetam diretamente o que acontece com os personagens na tela, então você é responsável por suas ações.
Você acha que existe um mercado para este tipo de filme?
Sem dúvida. Recebemos muito retorno de espectadores que disseram esperar por filmes assim tem tempo, e que estão ansiosos por mais. Espero que consigamos dar conta disso.
Então esta idéia poderia ser usada pela indústria do entretenimento em sua guerra contra a pirataria?
Penso que se houvesse uma forma de ganhar dinheiro com esse tipo de filmes e todos ganhassem sua quantia justa, não haveria esse tipo de problema. É necessário se pensar num novo modelo, destinado à distribuição online, para que este tipo de filme seja acessível ao grande público e que seus desenvolvedores ainda consigam retorno com seu investimento.
Você tem idéia de como isso pode ser feito? Acha que espectadores pagariam para ver um filme interativo?
Eu gostaria de ter alguma idéia brilhante sobre como as pessoas podem ganhar dinheiro com filmes na internet, mas não tenho certeza. Existem meios óbvios, como anúncios online e inserção de produtos, mas não são muito lucrativos pelo que ouvi dizer... pelo menos, não o bastante para cobrir muito além dos seus gastos. Com relação a espectadores pagarem para assistir a um vídeo interativo, acho que, conforme os valores de produção aumentam e há mais conteúdo interessante sendo criado especificamente para a web, existe um potencial para que as pessoas estejam dispostas a pagar. No momento, há por aí muito conteúdo gerado por usuários, de orçamento muito baixo (apesar de às vezes isso não importar, se a história for interessante e bem realizada) e/ou não muito bom. Há algumas jóias no meio, mas é difícil saber pelo que vale a pena pagar, ou mesmo assistir, nesse mar de vídeos disponíveis na web.
É possível que a indústria cinematográfica comece a investir nesta área?
Acho que Hollywood percebeu o fato de que a internet não é uma moda. Existem conteúdos incríveis exclusivamente online, e eles sabem o tamanho do público online. Seria estúpido ignorar o potencial desta área.
Você acha que seria capaz de sobreviver se uma "revolta" (tradução aproximada de "Outbreak") realmente acontecesse?
Não sei se conseguiria. Até certo ponto, pode-se tomar decisões racionais e seguir linhas gerais de sobrevivência. Mas penso que muito da sobrevivência em um evento apocalíptico está fora do seu controle. Situações surgem mesmo se você não estiver preparado para elas e as conseqüências são imprevisíveis.
Você acha que o filme pode ser visto como um guia de sobrevivência no caso de um ataque real de zumbis?
Nossa teoria é a de que não existe uma maneira clara e certa de sobreviver a um ataque de zumbis. Como a vida, às vezes as decisões mais racionais podem ter os resultados mais inesperados. Assim, se houvesse uma revolta, eu definitivamente começaria atirando no cérebro deles. Se não funcionasse, aí estaríamos num grande problema...
19 de out. de 2008
Enquanto isso, no País das Maravilhas...
" É necessária uma refundação global do capitalismo, baseada em valores que ponham as finanças a serviço dos negócios e dos cidadãos, e não vice-versa - disse o presidente da França, Nicolas Sarkozy, no discurso de abertura de um encontro de dois dias entres líderes dos países da zona do euro, em Bruxelas. - O sistema dever ser completamente reformado".
Fonte: O Globo, 16/10/2008
"- (...) gostaria que conhecesse a nossa gata Dinah. Acho que você terminaria tendo uma simpatia pelos gatos, só de vê-la. Ela é tão quietinha, tão boazinha - dizia Alice meio falando para si mesma, enquanto nadava preguiçosamente no lago. - Ela fica tão bonitinha ronronando perto da lareira, lambendo as patas e lavando a cara...e é tão macia de se acariciar...e é tão necessária dentro de casa pra pegar os ratos...oh, perdão, perdão - gritou Alice. Desta vez o Rato ficou todo eriçado e ela teve certeza de que estava realmente ofendido. - Não falaremos mais nada se é o que você quer."
Aventuras de Alice no Páis das Maravilhas, Lewis Carroll
Acontecimentos da semana
"Diversos movimentos e organizações sociais realizaram nessa manhã de quinta [16/10] uma atividade contra o aumento exorbitante do preço dos alimentos. O ato, denominado 'Mulheres em luta pela soberania alimentar', foi organizado centralmente pelo movimento feminista. O ponto alto da manifestação aconteceu em frente ao supermercados Sendas da Rua do Riachuelo. Os manifestantes param em frente a empresa e estenderam um longo tapete-painel lilás com frases de denúncia do sistema capitalista, estabelecendo a relação entre a alta dos preços dos alimentos e a imprescindível resistência das mulheres".
"Mais de 300 integrantes da Via Campesina realizaram manifestação, na tarde dessa quinta [16/10], em frente à sede da transnacional Bayer, em Belford Roxo. A atividade foi organizada pelas trabalhadoras do campo que denunciam o modelo de agricultura industrial controlado por grandes empresas multinacionais. Os manifestantes responsabilizaram essa política pela elevação do preço dos alimentos e pelo crescimento de famintos no mundo".
Fonte: Agência Petroleira de Notícias (www.apn.org.br)
"Pelo sexto ano consecutivo, movimentos sociais e entidades da sociedade civil realizam a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação em diversas cidades do país.
Os eventos, debates e atos públicos neste ano estarão voltados para o fortalecimento da luta pela convocação da 1a Conferência Nacional de Comunicação. A semana também reforçará a necessidade de revisão dos processos de outorga e renovação das concessões de rádio e TV. Nas capitais onde as outorgas das principais redes de TV do país estão vencidas há um ano – sem terem sido devidamente avaliadas pelos órgãos responsáveis –, audiências e atos de rua serão momentos para a sociedade fazer a sua avaliação sobre como as empresas vêm utilizando estas concessões públicas".
Fonte: Intervozes (www.intervozes.org.br)
15 de out. de 2008
Prendam! A palavra é "flor"!
Estamos acostumados a comemorar as maravilhas da internet. Rede aberta, colaborativa, sem censura, na qual todos podemos falar e ouvir, ver e ser vistos, etc. Pouco discutimos ou pensamos sobre as possibilidades de censura e criminalização que já acontecem e podem aumentar caso leis como a do senador Eduardo Azeredo sejam aprovadas.
Pois ontem, lendo a revista Caros Amigos (depois de meses sem comprar um exemplar), me deparei com um interessante soneto do Glauco Mattoso - poeta, em suas próprias palavras, "cego punk" -, com o qual tenho certeza que muitos se identificarão:
Soneto detectado [721]
Poeta que conheço é redator
num órgão cujo "emeio" tem censura.
Qualquer palavra insólita ou impura
será denunciada ao Superior.
Mas é o computador que a ser censor
se arvora e escolhe a esmo o que dedura.
Um vírus desse tipo não tem cura,
e o termo interditado agora é "flor"!
Coitado do poeta! Proibido
de usar seu mais cromático instrumento
verbal! Por tal critério, não duvido
que, em vez de "passarinha", esse luxento
programa um "passarinho" tenha lido
e o vete de voar livre no vento...
14 de out. de 2008
Brincando com Machado
Economia do Pânico
Mantenha-se empregado!
Atento às novas tendências mundiais, o CAROÇO traz a você, amigo leitor, uma série de análises psico-econômico-financeiras da realidade que vivemos. Em (mais um) ato de utilidade pública, convidei o renomado analista mercadológico Armando Peixada a escrever neste blogue.
Em meu primeiro post, vou tratar de um assunto que afeta a todos: a inserção no mercado. Todos nós, enquanto trabalhadores a nível de profissionais, precisamos nos qualificar no mercado de forma a chamar a atenção para nossos talentos e a esconder nossos defeitos. É isso que vai garantir que você não vá fazer uma visita trágica ao RH da sua empresa. Para evitar a demissão, existem dois caminhos: fazer com que seus colegas sejam demitidos ou subir posições. Hoje, falaremos sobre esta última opção.
Você pode esperar que seu chefe reconheça seu talento. Você pode desempenhar suas funções à perfeição. Você pode ser cheio de proatividade, sinergia e todos esses termos bacanas de psicologia empresarial. Talvez você eventualmente ganhe uma promoção. No entanto, se depender só disso é provável que leve tanto tempo que você acabe sendo demitido antes.
Assim, recomendo uma tática de marketing pessoal mais agressiva, citada pelo psicociosoneurólogo corporativo americano Al Make U. Jobless em seu recente livro Blowing your Job: o Fellatio Subinte, conhecido mais popularmente como boquete.
O conceito do Fellatio Subinte é simples: basta uma chupetinha em seu chefe imediato para que ele faça uma indicação à diretoria. Em seguida, será necessário você convencer a diretoria -- usando a mesma estratégia empregada com seu chefe -- para começar a galgar posições. Não desanime se o quadro de diretores for muito extenso: pode reparar que os altos executivos em grandes corporações são todos um pouco dentuços devido ao excesso da prática.
Caso seu chefe imediato seja uma mulher, não se abale: acima dela sempre haverá um homem, pois o ambiente empresarial é profundamente machista. É a atenção dele que você quer. No entanto, não aborde o homem acima dela se ele estiver em cima dela, já que provavelmente o interesse dele em seus argumentos não será dos maiores. Evite reuniões, para evitar distrações. O ideal são almoços, jantares ou torneios de golfe.Com o passar do tempo, a tendência no Fellatio Subinte é a reversão: conforme você sobe na empresa, a quantidade de boquetes recebidos tende a subir, chegando a se igualar e, eventualmente, superar a de pagos. Este é o chamado ponto ótimo (mesmo), normalmente acompanhado de um poder absoluto de acumulação de riquezas e delegação de tarefas -- ou seja, enquanto os outros trabalham, você lucra.
Armando Peixada é consultor empresarial e não cospe, engole.
13 de out. de 2008
Parem as rotativas! A crise chegou
Um jogo divino
Para todos aqueles que, como eu, acham essencial para a sanidade um pouquinho de guerra contra toda e qualquer religião, um joguinho de computador bíblico. Genial.
Audiência pública pró-conferência de comunicação (Alerj)
Segue a programação completa das manifestações, no Rio e em Niterói:
18h, no DCE da UFF: exibição do filme Encontro com Milton Santos / O Mundo Global Visto do Lado de Cá, de Sílvio Tendler, seguido de debate com a professora Adriana Facina sobre a influência da globalização na comunicação e na cultura. Logo após, o Sindipetro-RJ fará a palestra de lançamento do comitê contra a Privatização do Petróleo e Gás.
24 de outubro
17h, na Câmara dos Vereadores de Niterói: Debate sobre digitalização e a comunicação pública, com o engenheiro do CPQD Takashi Tome
8 de novembro
9h às 18h, no Clube de Engenharia (Centro do Rio): Seminário Pró-Conferência Nacional de Comunicação
Mais informações: www.rioproconferencia.
Continuando a campanha eleitoral...
Li este post hoje no Player, um dos blogs do Globo Online, assinado por Rodrigo Pinto, parece que é editor de cultura lá. E como a temática Cultura nos é cara aqui, vai a análise do jornalista. O candidato é Eduardo Paes e o tema é, mais uma vez, mas não só, a Cidade da Música.
http://oglobo.globo.com/blogs/mpb/default.asp#132066
Do eterno embate entre escritores e leitores
"Não gostou da moça sentada ao seu lado e o ofendia ver como ela lia às pressas e desatentamente as páginas que lhe haviam custado tanto esforço. Seu impulso era arrancar o livro das mãos dela e sair correndo com o volume para o outro lado da estação."
Paul Auster, A trilogia de Nova York.
12 de out. de 2008
Dia das Crianças (homenagem a Vinícius)
Vou seguir o tema das últimas postagens e continuar na música. A homenagem, dessa vez, é pra Vinícius de Moraes, e graças ao meu filho Antônio. Ontem, depois de cantar "A casa", "O ar (O vento)" e "O pato", ele me disse:
- Mãe, quero conhecer Vinícius de Moraes e Toquinho.
Inocentemente, respondi:
- Filho, Vinícius já morreu.
Passada uma hora e meia de tristeza (parecia ter perdido um avô querido) e só depois que prometi mostrar a ele alguns vídeos em que Vinícius aparece, Antônio resolveu o problema:
- As pessoas aqui no Brasil não sabem, mas Vinícius não morreu, ele agora mora na China.
Em nossa pesquisa no Youtube, além do musical "A Arca de Noé", exibido pela Rede Globo em 1980, encontramos este curta sobre o poetinha, feito por Fernando Sabino e David Neves, e lançado recentemente em DVD (Encontro Marcado com o cinema de Fernando Sabino e David Neves) pela Biscoito Fino:
11 de out. de 2008
A beleza do samba
Mas um dos vários méritos de Cartola – centenário hoje – há de ser reconhecido aqui: em todas as suas composições, a beleza é o que há de mais emblemático. Seja quando fala de Deus, da dor-de-cotovelo, do tempo que passou, de sua Estação Primeira ou de uma improvável alegria (“Era o que faltava em mim...”).
Numa dessas metáforas para tentar simplicar as coisas, uma vez um amigo me disse que ele é como Michelangelo (preciso nas proporções e na clareza do que retrata), enquanto Nelson Cavaquinho seria uma espécie de Picasso – buscando outro tipo de beleza, menos clássica, mais “torta” e às vezes até chocante.
Cartola não fez sambinha. Não que este diminutivo tenha qualquer conotação pejorativa: os sambinhas buliçosos – ligeiros, maliciosos e dançantes – têm sua vez em repertórios “acima-de -qualquer-suspeita”, como os de Geraldo Pereira ou Dorival Caymmi.
Entre os sambas grandiosos de Cartola estão algumas composições eternas, como Acontece, Sim, Divina dama e este que, desprovido de meias-palavras, é para mim sua obra-prima. Salve mestre Cartola, salve a Mangueira!
O mundo é um moinho
Cartola
Ainda é cedo , amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo
O rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a sua vida
E em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonho tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés
PS: Como Cartola, Nelson Cavaquinho também era de outubro, mas do dia 29. Aliás, Pelé (23) e Garrincha (28) também. Mês danado...!
10 de out. de 2008
La misionera
Ícone da canção de protesto, Mercedes Sosa recebe Ordem do Mérito Cultural e defende com veemência líderes controversos como o boliviano Evo Morales
9 de out. de 2008
Machado de Assis na WWW
A dica foi da minha amiga Pâmela:
A obra completa de Machado de Assis está disponível na internet, no site do Ministério da Educação. Além dos 246 arquivos de romances, contos, poesias, crônicas, etc., há informações introdutórias sobre a vida e a obra do autor, links para teses e dissertações baseadas em sua obra, um espaço para os leitores e pesquisadores postarem comentários e um vídeo produzido pela TV Escola.
O projeto é resultado de uma parceria entre o Portal Domínio Público - a biblioteca digital do MEC - e o Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Lingüística (NUPILL), da Universidade Federal de Santa Catarina.
Utilidade pública
A invasão de zumbis deve ser uma das principais preocupações das grandes metrópoles atualmente. Não se pode dizer que estamos preparados para um acontecimento desses; a morte (e conseqüente zumbificação) de grande parte da população pode ser dada como certa. Felizmente, um pessoal aí (com quem estou fazendo uma entrevista, aguardem informações posteriores) já divulgou na internet um vídeo (em ingreis) do que fazer. Pra estimular o aprendizado, o vídeo é interativo: assim você já sabe que, se tomar a decisão errada, pode morrer -- ou ter seu célebro devorado.
8 de out. de 2008
Diálogos de campanha (ainda no 1º turno) - e uma pergunta
No sacolão volante, estacionado na Pacheco Leão, Horto.
_ Esse Crivella não pode ganhar.
_ Ah, não mesmo. Não voto nele de jeito nenhum, aquele povo evangélico...
_ Você vai votar em quem, então?
_ Ah, eu voto naquele menino, ele é muito bom, honesto.
_ Quem, o Eduardo Paes?
_ Não, no Gabeira, ué.
Numa janela da São Clemente. Uma carreata do Molon passava na rua, com quase ninguém atrás. E a menina Sofia, de 2 anos e 10 meses, pergunta:
_ Mamãe, o que aquele moço tá fazendo em pé no carro, dando tchau?
*****
A pergunta: vocês acham que as fotos do "menino" Gabeira de sunga podem tirar votos do candidato verde?
Ovelhinhas
Você se assustava com a menina pastorinha? Eu também. Até descobrir hoje o "bebê pastor". Afinal de contas, o que já é ruim sempre pode piorar:
7 de out. de 2008
Conversas de escritorio
Menina 1: Acho que voces deveriam assistir a esse video.
Menina 2: Bem-vindos ao futuro!
Menino 1: Nao eh ilegal empregar macacos?
Menino 2: Olhe entao a sua volta.
6 de out. de 2008
Alamedas
Uma vez por ano, sempre naquele dia, ela vinha visitá-lo. Fazia tempo que não estavam mais juntos, mas ambos sentiam dever tanto um ao outro que era necessário, nem que fosse por um dia apenas, que se reencontrassem.
Sentado, sem se importar com os outros passantes, ele a esperava chegar. Viu quando ela apareceu ao longe, vindo devagar pelas alamedas cobertas de folhas secas, trazendo flores nas mãos. Ela gostava de manter aquela formalidade, o que fazia com que ele se sentisse tanto lisonjeado quanto incomodado; jamais se lembrava de dar alguma coisa a ela.
Sorriu quando percebeu que ela continuava linda, tanto quanto na época em que se apaixonaram, mais de vinte anos antes. Ela também sorriu ao vê-lo, iluminando seu rosto antes tenso -- parecia não ter se acostumado a encontrar-se com ele depois de terminado o casamento. Podia sentir o incômodo que a tomava.
Afinal, encontraram-se. Ela lhe entregou as flores e o encarou por um longo tempo. Sabiam que não havia nada a ser dito. Ela havia casado novamente, tido outra filha e arranjado um emprego melhor. Já ele permanecia na mesma situação desde a separação, tantos anos antes, mas nenhum dos dois se importava com isso. Reviam-se, e isso bastava.
Ele percebeu os olhos dela ficarem úmidos e sabia que ela pensava "e se ainda estivéssemos juntos?" Lamentava. Estava tudo acabado, não havia jeito -- quantos mais anos separados seriam necessários para que ela se convencesse? Ele não conseguia entender a razão de tal apego ao passado, de pensar em como seria se tivesse sido, de entristecer-se sem motivo desejando o impossível.
Uma lufada de vento fez com que ela se lembrasse de que devia ir. Fitou-o uma última vez, enxugando os olhos com as costas das mãos, sorriu incerta e se despediu com uma tristeza resignada na voz. Ele, por sua vez, não se mexeu; apenas acompanhava-a com os olhos, vendo-a se afastar com seus passos elegantes sobre as folhas secas caídas nas estreitas alamedas. Ela voltaria, ele sabia. Estaria lá novamente no ano seguinte, no mesmo dia de Finados, trazendo-lhe suas flores. E ambos, mais uma vez, lembrariam do tempo em que haviam estado juntos -- como se, por um só momento, pudessem esquecê-lo.
NYTimes sobre "Ensaio sobre a cegueira"
Não tenho acompanhado tudo que tem sido escrito sobre o filme Ensaio sobre a cegueira. Mas achei interessante essa crítica do New York Times, que bate, principalmente, no livro do José Saramago.
Tenho restrições ao livro, mas o que mais me impressiona é que o NYTimes praticamente diz que o livro é ruim porque é alegórico, isto é: porque não é realista. Para o jornal, o que importa são os "seres humanos reais" (o que é isso, exatamente?; algum livro ou filme fala realmente de "seres humanos reais"?). Como bons apóstolos de Syd Field, os críticos costumam avaliar negativamente todo e qualquer filme (e, claro, todo livro, ora pois) que não obedeça à máxima de que "toda ação do personagem deve ser justificada pela construção psicológica desse personagem". Isso, para eles, não é um "universo mecânico"...
Por fim, nos diz o crítico, "o filme [Blindness] não nos dá muito o que pensar". A mim, dá muito o que pensar (como, p. ex., que m... afinal é o "ser humano"), ao contrário desse realismo onipresente em filmes como Menina de ouro (Clint Eastwood) e livros como Pastoral americana (Philip Roth), que todos aplaudem sem restrições, mas que para mim parecem aula de educação moral e cívica.
Conclamo algum caroço com maior sensibilidade cinematográfica a falar sobre o filme...
5 de out. de 2008
Cesar Maia acha que vai dar Gabeira
Se a campanha eleitoral foi morna, o dia de votação está quente no Rio de Janeiro. Daqui a pouco começam a sair as pesquisas de boca de urna. Apressadinho, o prefeito-internauta Cesar Maia já botou seu data-blog na rua. Previsões - baseadas em quê, Deus!!!??? - são favoráveis ao candidato Fernando Gabeira. reproduzo na íntegra o conteúdo que ele publica em forma de newsletter, conhecida como ex-blog.
DATA-BLOG VAI AS RUAS NO SÁBADO E GARANTE GABEIRA FÁCIL NO SEGUNDO TURNO!
1. Gabeira chegará aos 20% e Crivella ficará nos 14%, aliás, previstos desde o início da campanha por este Ex-Blog.
2. O Ibope -confessando os erros- fez um gigantesco ajuste em uma semana. A diferença de 14 pontos passou a ser de 2 (19% a 17%). Mas para fazer essa mágica e se justificar, o Ibope disse que fez uma pesquisa com 1.200 entrevistas durante três dias: quinta, sexta e sábado. Com isso dirá que havia uma curva ascendente de Gabeira e que os três dias mitigaram esse resultado.
3. O Data-Folha fez a pesquisa entre sexta e sábado e deu Gabeira na frente: 18% a 17%, com 2 mil entrevistas.
4. Mas os experimentados entrevistadores do Data-Blog foram para a rua no sábado e entrevistaram 1.200 pessoas por toda a cidade. Na quinta-feira haviam apontado 17% para o Gabeira e 15% para o Crivella projetando pelo menos 3 pontos de diferença no hoje.
5. Mas ontem o Data-Blog fez primeiro uma pesquisa efetivamente espontânea. Gabeira teve 17% e Crivella 10%. Paes teve 22%. Ainda tinham 36% de não-voto (brancos-nulos-indecisos).
6. Na pesquisa de ontem, de intenções de voto induzidas, Gabeira teve 20% e Crivella 14%, numa enorme vantagem muito além da margem de erro. A curva ascendente de Gabeira traduz um movimento de contaminação de voto que pode ampliar esta diferença.
3 de out. de 2008
Que mistérios tem Clarice?
“E um dos indiretos modos de entender é achar bonito.”
Tinha acabado de entrar na exposição sobre Clarice Lispector no Centro Cultural Banco do Brasil e pensava justamente na dificuldade que sempre tive de “entender” a escritora. Tenho vários livros, tentei ler alguns deles, mas sempre fui abandonando a leitura pelo caminho, um a um. No entanto, ao entrar na primeira sala e me deparar com as fotos e algumas de suas frases era como se aquilo que estava lendo e admirando fizesse todo o sentido para mim, desde sempre.
Foi quando me deparei com a frase lá em cima.
Estive lá no domingo, mais um dia chuvoso no Rio e, pelo que eu tinha lido, o último para se conferir a exposição, que já tinha feito o maior sucesso em São Paulo. Foi uma surpresa atrás da outra. Além de achar as soluções cenográficas perfeitas para se ler Clarice, gostei muito de entrar em contato com o universo mulher da escritora. Numa entrevista, que assisti sentada no sofá, ao lado da máquina de escrever usada por Clarice, ela explica que “é muito maternal” e que, portanto, tem muito mais facilidade e gosto para lidar com crianças que com adultos.
Nessa linha feminina, um dos documentos expostos que mais me chamou a atenção foi uma listinha de afazeres domésticos de Clarice:
1) Viver melhor as 24 horas do dia (ter mais tempo)
2) Tinturaria cabelo
3) Luvas
4) Café turco
5) Ginástica
1) ...
2) Morangos pessoas de idade
3) ... o menu
4) Vestido preto
5) Dar paz ao rosto (telefonar Wilma)
Desde que casei, as listas com afazeres tornaram-se um hábito indispensável. A gente vai andando pela casa e vê que a pasta de dente está acabando, que o leite só dá para hoje, que o pão está vencido, etc. Se não anotamos nada, corremos o risco de voltar do supermercado sem os itens básicos para a casa funcionar. Clarice, mãe de dois filhos, mulher de diplomata, escritora famosa, não era diferente.
Em outro trecho da tal entrevista, ela fala também de seus livros e do rótulo de “hermética”. E conta, deliciosamente, que um professor de literatura de um colégio famoso no Rio disse que não conseguiu entender um de seus livros. Emenda revelando que o mesmo era o livro de cabeceira de uma moça de 17 anos, que a abordou para contar a história.
Saí da sala de exposição, depois de me deliciar com as cartas enviadas por e para Clarice, de gente como Rubem Braga, Lúcio Cardoso, Paulo Mendes Campos, Érico Veríssimo, direto para a livraria da Travessa do CCBB. Se a menina de 17 anos compreendia, já era a minha hora de comprar e tentar ler “A paixão segundo G.H. Para minha surpresa, o livro citado por Clarice no vídeo estava esgotado ali. Sinal de que muitos leitores, como eu, já estavam tentando penetrar ainda mais no reino das palavras da autora de “A hora da estrela”.
OBS: Esse texto também foi publicado no meu novo blog. Tentei escrever algo que valesse para os dois lugares, com o objetivo mesmo de linkar aqui no Caroço o meu novo endereço no mundo blogueiro. O Lameblogadas II ainda está em fase de arrumação e faxina geral, mas acho que já posso fazer o open house.
2 de out. de 2008
Jogando pesado, mas com jeitinho
Entrei no orkut hoje e dei de cara com a seguinte mensagem, no painel principal, logo abaixo da minha sorte do dia: "Uau, você está usando o Google Chrome! Cuide dele direitinho".
O navegador da Google, lançado no início de setembro, de fato caiu no meu gosto, mas nessas horas me bate aquela nóia séria de que os caras vão dominar o mundo e eu estou batendo palma pra maluco dançar.
A linguagem despretensiosa e descontraída não passa batido, não vem de hoje e de inocente não tem nada. Todos aqui já tivemos o privilégio de, após uma tentativa fracassada de acesso ao orkut, ler as mensagens engraçadinhas do tipo "bad, bad server".
Isso me lembra uma entrevista que assisti, há mais de 10 anos, com um professor de marketing que dizia que a capacidade das empresas de conferir humanidade à frieza do computador definiria a disputa por clientes e usuários na Internet - e ele exemplificava esse pensamento com profecias estranhas, como a invenção de mecanismos para medir a sensibilidade do toque nas teclas, que por sua vez ativariam o envio de mensagens correspondentes à sutileza ou falta de na hora de teclar, do tipo "ai, porra!" ou "hum... assim que eu gosto".
O tal do professor acertou. Essa tendência de tecnologia/internet humanizada aparece não só no diálogo engraçadinho com o usuário do orkut, mas está também no azul bebê que ambienta a rede de relacionamentos, cor do aconchego, que induz a uma certa hospitalar letargia.
Teorias conspiratórias à parte, na semana em que a Google anunciou o Chrome, a Discovery Brasil exibiu um programa sobre a Internet e a guerra dos navegadores, travada entre 1995 e 1999. O documentário vale muito à pena (faço ressalvas, mas mesmo assim vale) e nos dá uma boa dimensão do que representa um navegador a mais no mercado.
PS - A imagem do post eu tirei daqui. Porque o mundo é dos nerds e dos geeks.
RELATO DE VIAGEM - SOBRE AGRICULTURA E AGRICULTORES (PARTE 1)
Depois de aproximadamente seis horas de viagem, partindo de Campina Grande, chegamos à pequena cidade de São José de Piranhas, situada no sertão da Paraíba, aos pés da Serra do Monte Horeb. São dez horas da noite, a temperatura é amena, os hotéis estão todos cheios, funcionários de uma empreiteira responsáveis pela duplicação das redes de transmissão elétrica ocuparam todos os lugares. Pego o telefone celular e tento ligar pra casa, não tem sinal. Damos uma volta pela praça, a cidade parece estar em “polvorosa”. Estamos em ano eleitoral e, em alguns dias, será instalada uma antena para celular. Não se fala em outra coisa. Cansados, fomos muito bem recebidos na casa de um amigo, Weggles.
Na manhã seguinte, depois de um farto café da manhã, conheço melhor a cidade. Uma grande praça em frente a Igreja, com direito a coreto,bares e tudo. A vida social da cidade está na praça. Um bom comércio, ruas limpas e organizadas. Mulheres bonitas em toda parte. A economia local gira em torno da agricultura, do funcionalismo público e de aposentadorias. Na produção agrícola destacam-se as culturas de arroz, fava, feijão, milho, gado. Com cerca de 20 mil habitantes a disputa eleitoral é acirrada, e como dizem por lá, “ tá quente como boca de caieira!”. Dia e noite, carros de som fazem propaganda para os três candidatos a prefeito, disputando numa “briga sonora” os ouvidos e os votos dos eleitores. Mas durante alguns dias, um carro com uma chamada diferente destacava-se dos demais, convidando os cidadãos a participarem do “Dia de Beneficiamento de Algodão Agro ecológico Colorido”, na comunidade de Lagoa de Dentro. Uma grande faixa colocada na entrada da cidade também dá destaque ao evento.
Desde 2003 foi instalada na comunidade de Lagoa de Dentro uma mini-usina para o beneficiamento do algodão que é produzido na região, tornando-se assim a "comunidade núcleo" de um pólo produtor que aglutina as comunidades de Pereiros (município de Bonito de Santa Fé), Sítio Barreiros (município de Cajazeiras), Redondo (em Cachoeira dos Índios) e Espinheiro (em Aurora - CE).
A cotonicultura vem sendo reintroduzida na região depois de anos de decadência, em decorrência do aparecimento da praga do bicudo e da abertura do mercado brasileiro à competitividade internacional na década de 90. A iniciativa partiu de um projeto do COEP (Comitê de Entidades no Combate a Fome e Pela Vida- www.coepbrasil.org.br) em parceria com a Embrapa, Chesf, UFRJ/Coppe. Um dos objetivos iniciais do projeto era geração de renda e agregação de valor ao produto na agricultura familiar.
O beneficiamento é um processo que permite que o algodão em rama seja separado em pluma e caroço, prensado em fardos e vendido diretamente para fábricas de fios, sem passar pelos atravessadores. Assim, alcança um preço melhor de mercado, deixando o lucro com os agricultores.
(Continua...)
1 de out. de 2008
Novo Portal Literal
Boa notícia na rede. O Portal Literal entrou em uma nova fase. Inspirado no modelo do Overmundo, abre espaço para a publicação de textos meus, seus, de todos os internautas deste país. Boa notícia porque o Literal, com todo o seu pioneirismo, estava mesmo precisando de novos ares. Mas também porque propostas como essa de, digamos, "co-autoria", mais descentralizadas, combatem o umbiguismo que acomete a maior parte dos blogs brasileiros sobre os nossos velhos amigos de papel com marquinhas pretas.