23 de ago. de 2008

DO COMENTÁRIO


COMING TO LIGHT – EDWARD CURTIS AND THE NORTH AMERICAN INDIANS

DIR: Anne Makepeace, EUA, 85 min, 16 mm, 1999

Sinopse: (retirado do catálogo da Sétima Mostra Internacional do Filme Etnográfico)

O filme retrata a vida de Edward S Curtis, brilhante fotógrafo de Seattle que, entre 1900 e 1930, fotografou e filmou os índios da América do Norte. Os descendentes dos “modelos” de Curtis utilizam as fotos para fazer renascer suas culturas e explicar o que elas representam para os índios de hoje.

DO comentário:

Três fatores fundamentais marcam a História específica dos EUA no século XIX, a Guerra Civil, a “Conquista” do Oeste e a Guerra Hispano Americana (que estigmatiza o início do domínio norte americano sobre a América Latina). Um desses fatores, a Conquista, é de suma importância para o entendimento do trabalho de Curtis, que vivenciou parte de um períodos dos maiores massacres da América (1865-1890), o genocídio dos índios norte americanos que, apoiado pelo governo, se torna institucionalizado. Curtis inicia seu projeto de registro nos fins do século XIX, logo após o período dos grandes massacres. Ele talvez tivesse a consciência de que seu trabalho fosse o único registro desses povos. Quando inicia, muitos povos já haviam se extinguido, sido dispersos e divididos em reservas fora de suas áreas originais. A idéia inicial era de registrar fotograficamente todos os grupos indígenas norte americanos e fazer uma enciclopédia, mas ele acaba também se utilizando de câmeras de cinema tentando filmar antigos rituais até então nunca registrados. Não conseguindo, recria esses rituais em estúdio e lança vários filmes no mercado. Suas fotos, grande parte delas são influenciadas pelo Retratismo e Pictorialismo do século XIX. Hoje muitos antropólogos questionam o trabalho de Curtis embora reconheçam seu valor. Muitas vezes, principalmente quando ele parte para o cinema, seu trabalho parece ficar no limite entre a realidade e a ficção, conseguindo de uma forma diferente, diria até mesmo perigosa de atrair a atenção para um tema até então abominado na sociedade americana: a questão indígena.

Navajos, Tupinambás, Cheyennes, Guaranis, Siouxs, Apinajés, Kiowas, Pataxós, Aparahos, Bororos, Cherokees, Timbiras, Creeks, Aymorés, Mohawks, Goitacazes...

São uma pequena parte dos muitos Povos da América do Norte e do Brasil que guardam entre si muito mais do que origem, tradições e histórias, talvez compartilhem do mesmo fim, o fim assistido algumas vezes por Curtis. Uma história que se repete em toda parte... (será?)

O documentário segue uma narrativa linear mostrando que o trabalho e a vida de Curtis se fundem, induzindo durante algum tempo o espectador a ter um pensamento que se confunde com o do próprio Curtis, até que, em determinado momento, começa a trabalhar com elementos que geram um conflito interno. Um desses elementos é o questionamento da veracidade e da validade de seu trabalho, aquilo que era verdade torna-se verossímil. Abrindo espaço para a discussão tanto da fotografia quanto do cinema documental e sua suposta objetividade. Curtis parecia estar absolutamente envolvido por seu trabalho ao ponto de tentar reconstruir realidades que até então já não mais existiam, essa reconstrução é o limite com a ficção.

Conheçam a obra de Curtis!

Marcelo Valle

3 comentários:

Monique Cardoso disse...

Nossa! Marcelo, que coisa específica!!! Mas muito interessante. Já li um livro sobre a colonização e a questão indígena americana. Foi uma surpresa, comprei o livro porque tive de esperar nove horas por um vôo num aeroporto de interior, cuja sala de embarque sequer tinha lugar pra sentar. Mas havia uma banca de jornais com uma gôndola de pocket.
Os índios lá foram tão dizimados quanto os daqui, mas pelo que sei há uma série de benefícios sociais para os decendentes.

Marcelo Valle disse...

Olá Dona Monique! Acho que o livro que você leu chama-se "Enterrem meu coração na curva do Rio", de Dee Brown,não é? Eu li esse livro quando tinha lá, os meus dezesseis anos. É muito bom e me fez pensar muita coisa, inclusive a respeito dos nosso próprios índios e das nossa políticas de colonização e expansão...mas isso é outra história.
Falar de cinema não é algo tão específico assim, afinal todos nós tivemos e temos muito contato com esse "universo". Os documentários têm muito em comum com o jornalismo e é sempre bom acompanhar o que vem sendo feito.
Quanto aos benefícios sociais, tenho lá minhas dúvidas...
Bem, isso dá muito pano pra manga!
Beijinho do Magoo

Monique Cardoso disse...

pois é! é este livro mesmo.
bem, o suporte pode ser até o cinema, o filme. mas o assunto não é cinema! é coisa de indio!!
Quanto aos benefícios, eles pagam tipo uma pensào pra decendentes de índios de loooongo parentesco. basta vc requerer, morar nas áreas beneficiadas, etc.
tb tenho minhas desconfianças quanto a benefícios, mas a gente no brasil não sabe o que é isso. na islândia, ou será finlândia? bem, a licença maternidade é de cinco anos. na esolováquia, um país que ficou fudido com a abertura política, a licença é de 3 anos. um estes anos pode ser para o pai, e dois para a mãe. enquanto aqui a discussào de seis meses já está causando terremoto por causa do orçamento. o governo só pensa no superavit.