Aproveitando as citações literárias por aqui, deixo a minha contribuição lembrando que hoje é o Dia do Escritor. Quem deu a dica foi o amigo Henrique Rodrigues, cujo livro de poesia "A musa diluída" recomendo com louvor. Segue seu email:
Hoje é comemorado o dia do escritor, desde um decreto governamental de 1960. O crítico francês Roland Barthes distinguia écrivant (escrivão, aquele que transmite uma mensgagem sem muito gueriguéri) de écrivain (escritor, o que se detém na forma e vai além das palavras, tentando costurar os vazios que existem por trás delas). Uma diferença pequena e imensa entre os dois termos. Vai em homenagem aos camaradas um dos metapoemas mais relevantes da nossa língua: "Catar feijão", do João Cabral.
Catar feijão
João Cabral de Melo Neto
Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e o oco; palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
25 de jul. de 2008
Dia do escritor - Brincadeira com João Cabral
Assuntos:
* Cláudia Lamego,
literatura,
poesia
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