24 de jul. de 2008

Brincadeira com Clarice


“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é.”

De Felicidade Clandestina, Clarice Lispector. Rocco, 1971.


E eu que, plena de arrogância, achava que já tinha lido tudo de Clarice, há exatos sete dias descobri o visceral conto “Perdoando Deus”. Desde então, rezo para dar de cara com um rato de esgoto.

3 comentários:

Gugu disse...

Lindo trecho, Lu. Adorei.

Cláudia Lamego disse...

Lu, lindo.
Vou fazer uma confissão: até hoje, aos 33, não consegui "entrar" no mundo de Clarice. Isso é quase uma falha de caráter, né não?
Me sinto culpadíssima também por não ter lido o Grande sertão: veredas.
Mas, como disse a Nique, o Marcelo e o Gu, os livros nos procuram.

A digestora metanóica disse...

Clau, entrar no mundo de Clarice foi muito difícil pra mim. Muito mais difícil que ler Grande Sertão: Veredas. Mas depois... Clarice, Clarice, Clarice.

Lindo fragmento, Lu.

Beijos