24 de jul. de 2008

Dois pesos, duas medidas

A Justiça condenou o MST a desembolsar R$ 5,2 milhões à Vale, outrora Companhia Vale do Rio Doce. O processo movido pela mineradora se refere à ocupação e interdição da ferrovia de Carajás, ocorrido em abril, pelo movimento (impressionante como a Justiça é rápida para condenar movimentos sociais).

E logo surgem os porta-vozes da "ordem" e da "legalidade" para condenarem as ações do MST. O discurso é quase sempre o mesmo: o movimento não conhece vias democráticas, ou prefere o uso da força, ou não respeita a livre propriedade e outros argumentos típicos do sistema neoliberal que nos é enfiado goela abaixo.

E isso não é exclusividade do MST ou dos outros movimentos agrários. Qualquer passeata no Centro do Rio, seja de funcionários públicos, de sem-tetos, de motoristas de ônibus, de bancários, de carteiros, é logo execrado pelos formadores de opinião de plantão. É comum ouvir a hipócrita frase: "A reivindicação deles é até justa, mas por que atrapalhar o resto da sociedade, o trânsito, os trabalhadores?".

A resposta é simples: porque no Brasil e na devastadora sociedade liberal que vivemos, só mesmo parando o trânsito, gritando alto do carro de som, interrompendo a ferrovia, a estrada, a rua, é que se tenta roubar um pouco a atenção de um povo forçadamente alienado pelo próprio sistema. Pois as mazelas e feridas desse país precisam competir com a preferência pelo Big Brother, pela Xuxa, pela Ana Maria Braga, pelo futebol, pelo Carnaval...

E por que trabalhadores não têm o direito de fazer sua manifestação e o Estado atrapalha nossa vida a todo momento? Afinal, o incompetente prefeito desta cidade é o primeiro a atrapalhar a vida dos cariocas. Todo verão tem um deslizamento de terra em uma favela, uma enchente em uma comunidade esquecida, uma epidemia de dengue. E em todo ano de eleição, o trânsito piora porque o Napoleão dos Trópicos resolve fazer todas obras ao mesmo tempo para mostrar serviço.

Disso, ninguém reclama. Ou não quer reclamar.

4 comentários:

A digestora metanóica disse...

Genial a comparação do último parágrafo, Mira.

Beijos

Anônimo disse...

Velho camarada vermelho do CAP. Ainda bem que o pessoal do SNI já estava em descontinuação na época, senão a gente tava fú! Será que ficamos com ficha? Sds

Olívia Bandeira de Melo disse...

Pois é Fernando. Enquanto uns reclamam da alienação e da falta de atitude e de articulação da população, outros criminalizam os atos de protesto, as lutas políticas.

E tem outra coisa. Os movimentos do campo e da cidade, infelizmente, estão muito separados. Quantas vezes já ouvi pessoas que lutam pela posse de terra nas favelas metendo o pau no MST e comprando o discurso da defesa da propriedade privada? Nossa mídia contribui bastante pra essa demonização do MST.
Abraços!

Miragaya disse...

É isso aí Lili! Contribui demais. E faz isso em várias camadas de informação. Já viu como o Chávez e o Evo Morales são amaldiçoados? Tudo que eles fazem têm um tom de deboche, crítico e irônico. Compram o discurso dos ianques e enfiam à força na cabeça do telespectador/leitor. É lamentável. Enquanto isso, os Estados Unidos reformam sua frota para a América do Sul para garantir o petróleo do futuro, que está onde? Venezuela...


Camarada do CAP! Quem és tu? Eras da Turma?

Abs