30 de mai. de 2008

Impressões de viagem São João-Bonsucesso

30 de maio

Aos poucos, parece que a configuração urbana do futuro vai surgindo. Na avenida Brasil, há um estranho e antigo prédio comercial; a construção interrompida na metade serve de estrutura para uma favela em camadas: cada andar daquilo que seria uma empresa parece um pequeno bairro miserável, um em cima do outro, pobreza sobre pobreza, em uma selva de concreto ainda mais escura do que aquela em que vivemos. (Em uma rua de Bonsucesso, a calçada de um quarteirão de indústrias começa a ser ocupada por barracos, como um caracol em que no centro houvesse um círculo grande e ao redor fossem se acumulando pequenas circunferências daquilo que é marginal, à margem.)
Não mais apenas duas cidades estranhamente unidas sem se misturar (como água e óleo): agora o Rio também é uma cidade dentro da outra (como aquelas bonecas russas). Se, no Japão dos livros de Genichiro Takahashi, é possível que em um andar de um prédio alto corra um rio, aqui nossa falência urbana é servida em camadas retangulares. Lá estão o esgoto aparente (desta vez, não à céu aberto), sua criminalidade de subsistência, seus gatos elétricos e suas vidas próximas e distantes da minha.

2 comentários:

Monique Cardoso disse...

Tenho grande curiosidade de entrar nesse prédio. Acho que estamos nos referindo ao mesmo, um de esquina. Era uma empresa do ramo automotivo, a Borgauto, eu acho, que faliu. Um funcionário não indenizado, que ficou sem ter como pagar o aluguel depois da perda do emprego sem nada receber, mudou com a família para uma das salas do prédio e assim iniciou a ocupação/invasão. O lugar é conhecido como Palace II, tem até cobrança de condomínio e uma organização interna que já foi bem rígida. Sempre que aparece alguma matéria na imprensa sobre aquele lugar, faço questão de ler.

Olívia Bandeira de Melo disse...

Quase ao lado da Bem Tv há um antigo casarão caindo aos pedaços que serve de moradia para muitas famílias. O esgoto corre pela calçada de vez em quando, crianças "sozinhas" atravessam na frente dos carros, a praça em frente está fechada pela ineficiência e promessas falsas da prefeitura.
A metáfora dessa parte da cidade poderia ser a de um dente que apodreceu porque a gente esqueceu de cuidar. Mas como ele fica lá, na parte de trás da boca maltratada da cidade, onde circulam estudantes e boêmios, é como se fosse invisível.