28 de mai. de 2008

Leitura de jornal em voz alta

Duas Caras por Artur Xexéu

O editor do Segundo Caderno do jornal O Globo levantou, hoje (28/05), questões interessantes sobre a novela Duas Caras, que termina essa semana. Ela tem muitos defeitos, como atores inexperientes, personagens que não cativaram e embates que ameaçaram acontecer, mas não aconteceram. Por outro lado, diz Xexéu, a novela tem também qualidades, como colocar uma favela como personagem principal do horário nobre e trazer “o maior elenco negro da história da telenovela do Brasil”.

Concordo com suas críticas e acrescento outros defeitos, como diálogos mal escritos, a romantização da vida na Portelinha e a legitimação, de certa maneira, das milícias. E também concordo com seus elogios. Questões importantes da realidade brasileira estavam lá colocadas (mesmo que sem profundidade), como o papel das favelas no Rio de Janeiro, a importância dos evangélicos e das religiões afro-brasileiras nas comunidades de baixa renda, a homossexualidade. E, é claro, a atuação fabulosa da Marília Pêra.

Brasil x Argentina

Não adianta. A mídia tem um prazer imenso em alimentar a rivalidade Brasil x Argentina. Pra que questionar um “conflito” tão antigo? Pra que estragar o prazer dos torcedores? Pra que diminuir o número de piadas em circulação?

Na seção “Por dentro do Globo”, em que o jornal conta como é o fazer de seus jornalistas, até na hora de elogiar quem fala mais alto são a crítica e a rivalidade. Leiamos:

“Nem sempre a rivalidade impede uma convivência tranqüila entre brasileiros e argentinos, mesmo que o assunto predominante seja o futebol. Na chamada Casa Amarilla, sede do Boca Juniors, Janaína Figueiredo, correspondente do Globo em Buenos Aires, foi muito bem tratada, na véspera do jogo contra o Fluminense, pela Copa Libertadores. Os colegas argentinos não se incomodaram ao notar a presença de jornalistas brasileiros. Pelo contrário, foram extremamente amáveis. O fato de ser mulher pode ter ajudado, mas desta vez é importante reconhecer que a simpatia dos argentinos foi total. Outros brasileiros confirmaram essa sensação, que ajudou a realizar uma cobertura que poderia ter sido mais difícil (…)”.

Jornalistas e atletas dos dois países costumam bater boca e se engalfinhar? Fiquei com essa impressão.

Minc x Marina Silva

Já falamos aqui no blog sobre a substituição da Marina Silva pelo Carlos Minc no Ministério do Meio Ambiente. Num comentário, manifestei minha preocupação com o que o Minc conseguiria fazer e um lamento pela Mariana Silva, que, em minha opinião, ficou na maior parte do tempo de mãos atadas, apesar dos elogios a sua competência e sua honestidade que o governo fazia.

Verdade ou não essas impressões, os jornais não deixam de alimentar o meu imaginário. A coluna do Ilimar Franco diz: “As comparações [entre Marina e Minc] começaram quando Lula afirmou que ‘Minc já falou, em uma semana, mais do que a Marina em cinco anos e meio’. Lula disse ainda que Minc é o Amarildo na Copa de 62 e Marina seria o Pelé. Ele de Copacabana, ela da Amazônia.” E, na charge do Caruso, Lula aconselha: “Minc, não se acanhe: em caso de dúvida faça o que eu não fiz, pegue o telefone e ligue pra Marina!”.

4 comentários:

Cláudia Lamego disse...

Lili, também achei interessante a coluna do Xexéo (com O e não U. O personagem do miliciano Juvenal Antena vale por mil defeitos - e eles são muitos. Além do elenco mal escalado (quem agüenta ver mais uma rivalidade entre Suzana Vieira e Renata Sorrah?), a direção do Wolf Maya é uma das piores coisas da Globo.

Sobre a rivalidade Brasil x Argentina, o mito é desfeito assim que se pisa em Buenos Aires. Somos bem tratados em todos os lugares lá. A rivalidade, saudável, só existe no futebol, entre as linhas do campo. O mito é ridiculamente alimentado pela imprensa sim, que, subdesenvolvida, fecha os olhos para as coisas dos nossos hermanos sul-americanos. Ah, notou o machismo do "talvez por ser mulher"? :)

Por fim, a comparação Minc-Marina é inevitável. Qualquer um que assumisse a vaga, passaria por isso. Aliás, não foi outra a razão pela qual o Jorge Viana não quis aceitar o cargo.

Olívia Bandeira de Melo disse...

Pra mim Xexéu é com U mesmo e não com O. Não foi uma ironia (nem um erro, talvez). Pra mim, a cara dele é de U. Não vou consertar, tá?

Marcelo Valle disse...

Minc é marketeiro,do tipo sou do Rio de Janeiro! Não perde e nunca perdeu nenhuma oportunidade de aparecer. Minc não é Ministério da Cultura?

Monique Cardoso disse...

Olha, acho que algumas vezes as pessoas precisam ser marqueteiras para serem ouvidas, ou para chamar a atenção dos outros para coisas que não são nem dos seus interesses pessoais. Quando eu ia a passeatas, bem antes de entrar na faculdade, acompanhando o povo da UFRJ onde minha irmã estudava, ele sempre estava lá, distribuindo aqueles adesivos que traduziam textos das leis para uma linguagem simples.
Adorava quando ele, na época de vereador e deputado, ia para os condomínios da Barra da Tijuca cimentar ou até bloquear com batatas (acreditem!!!) as saídas de esgoto ilegais construídas pelas ricas construtoras.
Não tenho opinião formada sobre o Minc. Não ponho a mão no fogo por sua integridade moral (gente, que significa este termo careta nos dias de hoje) ou por sua honestidade. Afinal, ele é político.