8 de mai. de 2008

Somos todos piratas?


Nossa amiga Gardênia perguntou, por e-mail, o que achávamos da pirataria. Estava em crise ideológica, sem saber se deve ser contra a pirataria ou se esse pensamento é pura hipocrisia. Considero o tema polêmico e acho que ele precisa ser exaustivamente discutido, apresentando todos os lados da situação, o processo de produção, o processo de consumo dos produtos culturais, a economia informal, as novas tendências da economia formal. Em geral, o assunto é tratado de forma moralista, tendenciosa e simplista, criminalizando as autores e consumidores da pirataria sem discutir a fundo a questão.

Concordo com os artistas que a pirataria os desvaloriza e tira o dindim deles, concordo com as empresas que seus lucros diminuem, mas acho que, com todas as facilidades tecnológicas dos dias de hoje, se o mercado cultural não mudar, vai mesmo se ferrar. Outras formas de comercialização de músicas, filmes, livros, etc., precisam ser inventadas. O Hermano Vianna discute essa questão no texto "Jogo da vida", sobre a comercialização do game Everquest, no site Overmundo. Segue o link, pois vale a pena.

Acho que, com as novas tecnologias, é mais fácil as empresas e os artistas lucrarem com o acesso aos produtos do que com a venda dos produtos em si. Algumas experiências desse tipo têm sido desenvolvidas. De qualquer modo, mesmo que as grandes empresas mudem sua forma de lucrar, a questão da pirataria e do mercado informal vai continuar e precisa ser discutida.

Agora, que nós somos hipócritas somos. Livros são copiados em todas as universidades brasileiras, por todos os cidadãos de bem que por lá circulam e ninguém fala nada. Será que o poder das editoras é menor? Ou a situação das cópias de livros já ficou tão institucionalizada que deixou de ser crime? Ou a lei pode ser burlada para incentivar a "cultura letrada"? Ou ainda o fato do consumo ser privado e não visar ao lucro permite a cópia?

No caso dos softwares a situação é a mesma. Fazemos cópias e mais cópias dos programas da Microsoft e bradamos orgulhosos: "Vamos copiar mesmo, não daremos lucros pros ianques!" Ou seja, os discursos de uma mesma pessoa são muitas vezes contraditórios, o que só demonstra o quanto jogamos essa conversa pra debaixo do tapete.


Ilustração: Marlon Amaro, para o jornal Olho Vivo

6 comentários:

Cláudia Lamego disse...

Lili, quanto aos livros os professores pedem para lermos um capítulo deles. Quem vai ser louco de comprar o troço inteiro, se não vai nem folhear mais, quando a disciplina chegar ao fim? Alguns, quando bons, nós mesmos acabamos comprando...
Mas a maior contradição está nos softwares. Não conheço uma só alma que tenha comprado. E nunca ouvimos críticas sobre isso.
Realmente, há hipocrisia e contradição nessa e em outras questões de nossa sociedade.

Gugu disse...

A propaganda anti-pirataria, inclusive, está cada vez mais incisiva. Agora estão associando o consumo de artigos piratas à crimes com armas de fogo e morte, como já se fazia com relação às drogas. O bicho tá pegando...

Olívia Bandeira de Melo disse...

E os CDs que a gente compra pra ouvir só uma ou duas músicas? Não é todo mundo que faz questão de ouvir "a obra" inteira.

Deia Vazquez disse...

Lili, esse eh um processo sem volta. E a industria, que nao eh boba nem nada, ja esta se adaptando a ela.
Se tiver paciencia, olha esse video da Apple:
http://www.youtube.com/watch?v=StYkjojwHfg

A Apple lancou recentemente o Movie Rental, onde a pessoa baixa o filme no seu iTunes e pode ser visto no periodo de 30 dias.
O download de musica ja eh papo velho mas mesmo assim, se assitir o video da Apple, vai ver que eles venderam 4 bilhooes de downloads no ultimo Natal. mercado ainda existe.

O Dvd ja era, esta com os dias contados. O Blu-ray foi a solucao inventada. Quem ainda quiser baixar filmes podera faze-lo na internet de forma ilegal (torrents) ou legal (atraves de qualquer locacao online, como da Apple).

Nos sempre pirateamos. Como voce bem lembrou no post, tiramos xerox na faculdade. Quem nunca gravou uma fita cassete do LP ou CD do amigo? Eh assim mesmo. E a industria sempre se adapta e sobrevive.

Gardênia Vargas disse...

É... Parei!

Cláudia Lamego disse...

A matéria que abre a Piauí deste mês é sobre o assunto. Sugiro a leitura.