30 de mai. de 2008

No sobe e desce da vida


Tarefas corriqueiras realizadas no centro da cidade, em edifícios comerciais, quase sempre me fazem andar de elevador. E nesse sobe e desce praticamente diário me vem uma sensação de desconforto com a presença dos ascensoristas. Mas um desconforto pelos dois lados: o dos passageiros, que precisam se espremer entre si por causa do funcionário, e o do próprio ascensorista, que acaba trabalhando em situação de quase-insalubridade.

Imaginem subir e descer durante horas a fio, encerrado num espaço pequeno, abafado e, muitas vezes, malcheiroso. A atividade não requer instrução, muito menos habilidade no contato com os passageiros, já que a comunicação é primária: “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”. A pergunta “Qual o andar, senhor?” é um plus. A maioria não faz questão de um contato mais próximo. Nem tem por quê.

Muitos deles ocupam ¼ do espaço disponível. A viagem já é ruim quando o elevador tem ventilação interna. Imaginem sem essa regalia... E quando o equipamento tem funcionamento precário, a situação pode ser ainda pior. O fato é que um ascensorista, muitas vezes, ocupa o lugar de dois passageiros. E as filas se formam do lado de fora... Soa incoerente.

Fico me perguntando se essa função é realmente útil para a população, já que os elevadores modernos possuem dispositivos eletrônicos que dispensam manuais e, por conseguinte, alguém que os opere. Hoje em dia as cabines falam com você, de maneira que a presença do ascensorista num equipamento como esse torna-se meramente figurativa.

Os salários variam do mínimo (R$ 415), podendo chegar a cerca de R$ 800 em cidades como São Paulo. No Rio, a categoria não tem um sindicato próprio, sendo representada pelo Sindicato dos Empregados de Edifícios no Município do Rio de Janeiro. Não é incomum encontrar anúncios nos classificados solicitando cidadãos para a função.

Pouca gente sabe mas existe um projeto de Lei no Rio (nº 48/2005) que pretendia obrigar a presença dos ascensoristas nos edifícios comerciais do município. Ele foi vetado por Cesar Maia. Em São Paulo, José Serra também vetou, na íntegra, em dezembro de 2005, o projeto de lei nº 144/2005, que previa a mesma coisa.

Certa vez, em um curso-relâmpago de Jornalismo Econômico no IBMEC, Eduardo Giannetti falou uma coisa interessante sobre isso: que nos Estados Unidos, por exemplo, não existem ascensoristas. Ele contou o caso de um amigo dele, norte-americano, que, em visita ao Brasil, perguntou-se, assustado: “o que essa pessoa está fazendo?”, apontando para o cabineiro.

No curso, o economista desabafou: “Pobre de um país como o Brasil, que não tem capacidade para absorver essas pessoas de forma digna”. No que tem toda razão: a atividade é completamente desnecessária, a não ser nos casos em que os elevadores requerem operação manual – o que é a minoria. Mas o tema vai além: reflete o descaso do poder público com a educação e qualificação profissional dos cidadãos brasileiros.

No cenário atual, o que seria mais sensato: seguir o exemplo das prefeituras carioca e paulista, vetando a contratação dos ascensoristas, mas promovendo qualificação de mão-de-obra em massa (para outras atividades), ou tornar obrigatória a presença deles, impedindo que mais pessoas sofram com o desemprego?

2 comentários:

Olívia Bandeira de Melo disse...

Nunca tinha parado pra pensar no trabalho do ascensorista. Continuo sem opinião formada.
No entanto, educação e qualificação profissional não adiantam se a gente não criar postos de trabalho, né?
Além disso, acho que deveríamos valorizar (em relação a salário e mesmo em relação a "status", ou falta de preconceito) profissões que são necessárias e completamente desvalorizadas, como doméstica, gari, etc., etc.

Gugu disse...

Tá certíssima, Lili. O Giannetti tocou justamente nesse ponto: a falta de postos de trabalho dignos. Ascensorista é sub-emprego, é cruel. E mais que isso: humilhante. Mas a pessoa se submete a isso porque não tem estudo e também precisa levar o pão pra casa...