Fraturas me assustam desde sempre. Acho que é um medo de outras vidas. Ou é coisa do meu subconsciente, já que quebrei o braço direito três vezes, e no mesmo local: final do rádio, próximo ao cotovelo. É um medo controlável. Mas o pavor passou a me rondar de novo depois do jogo do Flamengo contra o Cruzeiro, em 3 de agosto desse ano, quando o atacante do rubro-negro, Diego Tardelli, fraturou gravemente o antebraço direito. Pela televisão, ele parecia um pedaço de pau. Terrível.
O mais interessante – e contraditório – é que, apesar do medo de me machucar, não sofro quando penso nas fraturas da infância. Porque não foram acidentes graves, nada relacionado a automóveis ou travessuras dentro de casa. Nas três vezes em que me machuquei, estava brincando no quintal, lá em Barra do Piraí.
Na primeira, fui imitar meu irmão, um exímio trapezista de árvores. Ele, maior que eu, se pendurava nos galhos do limoeiro – no jardim da igreja - fazendo balanço com o próprio corpo. Eu, menor que ele, ia atrás. Só que uma das tentativas teve conseqüências mais dolorosas: caí. A segunda vez também teve árvore envolvida: a amendoeira lá de casa. Incorri no mesmo erro: imitar o meu irmão. Caí.
Na terceira, eu queria voar, como o Super Homem. Em vez de árvore, escolhi outro meio de transporte: o balanço da casa de uma prima. No vaivém, cada vez que a cadeirinha chegava no ponto mais alto, me jogava lá de cima. Numa dessas o Super Homem veio ao chão, e de mau jeito: era mais uma fratura. Nunca esqueço a sensação boa do vento no rosto a cada pulo. E da sensação ruim da dor e do pânico ao ver o inchaço: “Mãe, não quero ficar com braço torto!”.
Eu era criança, então o gesso implicava em certas conseqüências interessantes. As provas na escola, por exemplo, eram orais. Com o calor – os acidentes aconteciam no Verão – dava coceira, que eu aliviava com as agulhas de tricô da vó. Os amigos e primos desenhavam e escreviam bobagens no gesso. Eu tinha que comer com a mão esquerda. E tentava, a todo custo, escrever no papel como os canhotos. Sem sucesso. Havia ainda as tipóias, que compunham o figurino.
Meu pai, ansioso, foi quem tirou o gesso todas as vezes, em casa mesmo, com muita água caindo da bica. Horas na função. Eu tremia, tenso, esperando rever o meu braço depois de dias e dias sem contato visual algum. Ele aparecia frágil, mais branco que o resto do corpo, dolorido ainda. Ia aprendendo a movimentá-lo com o passar dos dias. Da terceira vez, precisei de muitas sessões de fisioterapia pra fazê-lo voltar ao normal.
Até hoje carrego a marca das travessuras: meu braço direito não flexiona completamente. No exame para o Exército, bastou uma olhada do tenente pra eu ser dispensado. “Quem aí já fraturou alguma parte do corpo?”, perguntou. “Eu, várias vezes”, respondi. Me livrei do quartel. O fato é que, a despeito de todos os inconvenientes de quebrar um braço – e do medo que me ronda ainda hoje - só tenho boas lembranças das minhas fraturas. E, mãe, apesar do seu apoio, não teve jeito: fiquei com o braço torto.
6 comentários:
Eu morria de raiva de nunca ter quebrado algo pros amiguinhos escreverem no gesso ;)
eu também. e olha que tentei. me jogava de árvores e barrancos e o máximo que consegui foram cicatrizes. culpa da minha mãe, que teimava em me dar leite "pra fortalecer os ossos".
Minha mae me dava uma tal de pastilha de calcio, no maximo que consegui foram sérias lesoes nos ´´nelvos´´ e musculares.
Mas eu quebrei a cabeça qdo era criança, ia pulando da janela do quarto andar, vestido com uma capa e achando que era o super homem.
Minha mae chegou na hora e deu tempo de me puxar.
Será que eu teria quebrado algum osso, se tivesse pulado??
L.C, a influência do Super Homem na traumato-ortopedia é realmente assustadora. Quantas crianças já se quebraram tentando imitar um super-herói??
Menino, morria e não sabia desse seu bracinho tortinho... Hehehe. Vou reparar. Eu já fraturei muitas coisas... Tornozelos... Os dois. Várias vezes... rs... Coisas de quem jogava vôlei... ;-)
Ah, atualizei o meu blog!
http://www.desabaffa.blogger.com.br
Também nunca quebrei nada...
Mas tenho uma história divertida. Dois amigos da minha mãe, quando crianças, pularam do alto de uma sacada do pátio de uma igreja, em Muriaé, com guarda-chuvas abertos, pra ver se flutuavam!
Beijos!
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