4 de set. de 2008

Meu irmão nadou no rio

Ando nostálgico nesses últimos dias. E tenho pensado muito no meu irmão, que é quase dois anos mais velho que eu – ele fez 33 em Agosto. Nunca fomos grandes amigos, andávamos em bandos diferentes. Ele sempre andou na rua, eu brincava no quintal. Ele não levava a escola a sério, eu me matava de estudar. Ele tem os olhos azuis, os meus são castanhos.

Não nos vemos com tanta freqüência e conversamos menos do que eu gostaria. Ele está no segundo casamento e, apesar de jovem, já tem quatro filhos. Somos os primos mais velhos da parte materna, que é numerosa. Para os pequenos, ele sempre foi exemplo de bravura, esperteza e malandragem. Eu era o contraponto: ensinando a falarem direito, a se portarem com educação e darem atenção aos livros.

Demorei quase 30 anos para perceber, mas hoje sinto que tenho grande admiração pelo meu irmão. Ele fez coisas que eu gostaria de ter feito. Viveu a infância e parte da vida adulta sem tanta preocupação. Hoje está bem, com trabalho estável. É um pai responsável e amigo, cuida bem das duas famílias. Sempre me teve como exemplo, porque eu estudei, me formei, vim morar na cidade grande. Se achava inferior.

Com algum tempo de atraso eu vejo que ele me serve como exemplo também. Me orgulho de tê-lo tido sob o mesmo teto durante quase 18 anos. Aprendi muito com ele, embora o achasse um irresponsável. No fundo eu tinha um pouco de inveja. Às vezes me arrependo de ter sido tão certinho o tempo todo.

O que me desperta ainda mais admiração foi um fato ocorrido há muito tempo atrás: meu irmão nadou no Rio Paraíba do Sul. E em época de cheia. Várias crianças já haviam se afogado tentando a façanha. O rio é traiçoeiro e cheio de poços. Mas meu irmão pulou ali. Não teve correnteza, não teve água barrenta que o ameaçasse. Apanhou, ficou de castigo, foi repreendido por toda a família. E apesar do choro tinha sempre escondido um riso gostoso e sonoro dentro de si. Meu irmão nadou no rio!

5 comentários:

Cláudia Lamego disse...

Gu, quando a gente cresce e amadurece passa a entender melhor e ser mais tolerante com as diferenças.
Meu irmão também já nadou em rio.

Monique Cardoso disse...

Eu não sou tão tolerante com as diferenças, como disse essa moça acima. mas seu post me deu vontade de fazer um semelhante. é quase uma sessão de análise! será que eu guento? tenho que guentar!

Gugu disse...

Tente, Nique. Vc verá que o peso fica mais leve de carregar.

Cláudia Lamego disse...

Essa moça acima?
Fala meu nome, moça!

Olívia Bandeira de Melo disse...

Lindo, Gu.
Beijos!