12 de jun. de 2008

Da série Impressões: Solidão

"Não preciso! Não preciso mermo. Ninguém merece isso! Não preciso disso", murmura a mulher sentada que pega meu dinheiro e devolve uns trocados. Passo na roleta e ela continua: "Não preciso disso, cara. Não preciso ficar ouvindo isso de homem. Fica enchendo meu saco, pô! Não preciso, mermo". Estava comendo um tangerina e cuspia o coroço no motorista, com força. Tinha lá seus 40 anos, era mulata, cabelo curto, jeitão malandro. Batia no banco e continuava "Ele tá pensando o que? Num preciso mermo não". Toca o celular. "Alô, alô... Alôooo. Oi, num to ouvindo, fala mais alto", o motor do ônibus rugia e ela continuava: " Ah! Que saco. Vou jogar essa porra no lixo. Não ouço nada, rapá". Tirou um outro celular da pochete e tentou ligar para o mesmo número que ligara pra ela. "Alô, alô! Foi você quem me ligou, né? É ela mesma. Quem está falando? Hein?????!!! Quem é que ta falando? Ó, num vou fala mais nada enquanto tú não falá quem é que ta falando aí". Desligou. Pegou o outro celular e começou a ligar. "Num atende... Eu hein?", resmungou em voz baixa. O telefone tocou novamente: "Alôooooooo.... Oi, ah, é você. Me ligou outro dia, né? Hummm, to ouvindo não.... Merda!! Agora eu jogo fora essa merda. Que bosta esse celular. Ah! Quer saber, num atendo mais. Ô fulaninho, qué a tangerina aqui? Tó! Foda isso, né? Tô te falando que eu não preciso".

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