30 de jun. de 2008

Onde andará Dulce Veiga? - o filme


Estava aguardando com bastante curiosidade a estréia de Onde andará Dulce Veiga?, filme de Guilherme de Almeira Prado baseado no romance homônimo de Caio Fernando Abreu. Primeiramente, algumas das razões para o interesse em uma adaptação desse livro para as telonas. O livro - um romance B, segundo Caio - é uma mistura de sofisticação literária e referências kitschs e cinematográficas. Além disso, ele faz parte daqueles livros do autor que se tornaram símbolos dos anos 80 (como "Morangos mofados"). E, também, Guilherme de Almeida Prado participou muito de perto do processo de criação, o que o gabaritava para a tarefa. (A interessante história desse processo criativo pode ser lida nesta matéria de Luiz Zanin Oricchio, do Estado de S. Paulo.)

O filme, no entanto, cai em muitos erros comuns ao cinema brasileiro e às adaptações de romances. Primeiramente, o roteiro padece de "literatice": muitas vezes, o texto foi passado diretamente para a fala dos personagens, deixando de lado o fato de que o diálogo deve ter características muito diferentes em literatura e em cinema. Além disso, muito da tensão (de certa forma, histórica) que Caio conseguiu produzir foi eliminada - ou simplificada. (Aqui, uma análise da revista Moviola sobre isso.) Do ponto de vista técnico, além da irregularidade dos atores, incomoda a edição de som, mesmo para um "filme B" - ou um filme que dialoga com os filmes B. A dublagem dos momentos em que Dulce Veiga (Maitê Proença) canta incomoda, quase tanto quando a inexpressividade dos momentos musicais de Márcia F. (Carolina Dieckmann) e do protagonista (Eriberto Leão).

E tem o final... Mesmo nesse ambiente incerto de sonho que o filme captou bem do livro, a cena final me parece uma redenção não merecida por uma história tão dúbia. Parece que aquela atmosfera ao mesmo tempo "kitsch" e "dark" da história de repente é transplantada para o capítulo final de uma telenovela.

Enfim, embora tenha momentos ótimos, principalmente aqueles em que consegue ser fiel aos temas caros a Caio Fernando Abreu (como o erotismo), o filme não consegue cumprir a tarefa às vezes hercúlea de adaptar um romance, mesmo que seja um "romance cinematográfico".

7 comentários:

A digestora metanóica disse...

Assisti o filme ontem, no Arteplex.

A angústia, o delírio, o sonho de Caio Fernando Abreu foram para a tela de uma forma que chegou a me emocionar. Uma adaptação sensível e talentosa

Não vi problema algum em relação ao som, talvez pela boa qualidade do cinema.

Não achei que as dublagens eram mal feitas, mas seguiam a linha "B" do filme. Além disso, todas as as vezes que Dulce Veiga cantava, o som era algo meio vinil, meio "radio days" - e eu definitivamente não chamaria isso de deslize técnico, mas de ótima adequação.

Gugu disse...

Estou supercurioso. Vou ver essa semana.

Lucas Bandeira disse...

Também vi no Arteplex. E, sinceramente, se a edição de som era para ser "malfeita", que isso fosse explícito. E a Márcia F. e o protagonista cantando são constrangedores.
Não percebi nem a angústia, nem o erotismo, só mesmo um pouco do ambiente onírico. Os "cortes" escolhidos pelo diretor enfraqueceram muito a trama. E o dialoguista foi literal demais, como já disse no post.

Gugu disse...

Lucas, eu não gosto da Carolina Dieckmann. Ela está bem no filme?

Marcelo Moutinho disse...

Estou bastante desconfiado. Sou fã do Caio F., e a adaptação dos seus textos é difícil demais. Talvez tenha que se optar por reproduzir o 'clima' dos livros...

Cláudia Lamego disse...

Também não vi o filme, mas não espero muito de Eriberto Leão (ex da Tiazinha - preconceito?) e da globalzinha Carolina Dieckmans.

Unknown disse...

Adorei o filme. O melhor filme brasileiro que vi este ano. Fiquei emocionado e adorei o som e todos os atores. D+!