Pesquisas científicas muitas vezes nos fazem pular de alegria. Sobretudo quando seus resultados salvam muitas vidas. Há alguns meses, já havia lido essa boa nova nos jornais. Essa semana, pude confirmá-la e saber um pouco mais sobre o essencial: como a tecnologia da ciência chega à sociedade.
Está disponível no Brasil, desde 2006, uma vacina contra quatro tipos de HPV, o Papiloma Virús Humano, uma família de vírus composta por mais de 120 subtipos. Destes, cerca de 30 podem infectar o trato genital de homens e mulheres. Alguns tipos de HPV, considerados vírus de alto risco, são os responsáveis pelo câncer de colo de útero, o tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil, atrás apenas do de mama. Segundo o site do Instituto Nacional do Câncer (INCA), "todos os casos de câncer do colo do útero são causados por um dos 15 tipos oncogênicos do HPV. Destes, os tipos mais comuns são o HPV16 e o HPV18. Outros fatores que contribuem para a etiologia deste tumor são o tabagismo, baixa ingestão de vitaminas, multiplicidade de parceiros sexuais, iniciação sexual precoce e uso de contraceptivos orais".
A vacina - contra os vírus 6, 11, 16 e 18 - tem 100% de eficácia em mulheres que nunca contraíram os vírus e 95% de eficácia em mulheres que já foram infectadas alguma vez (uma vez que existem 120 subtipos).
Estima-se que quase 19.000 novos casos surjam no Brasil em 2008, e que cerca de 7.000 mulheres morram no país vítimas da doença. Diante desses números, só podemos comemorar, não é mesmo?
Infelizmente, a história não é bem assim. A vacina, desenvolvida pelo laboratório estadunidense Merck Sharp & Dhome custa, em média, R$ 1.200,00 (três doses de R$ 400,00). Não há nenhuma previsão para a vacinação gratuita pelo governo brasileiro. Num desabafo com a minha ginecologista, perguntei: "Então, as mulheres pobres continuarão morrendo mais da doença do que as de outras classes?". A ginecologista respondeu que, ao que tudo indica, sim, e apesar do governo gastar muito mais com o longo e doloroso tratamento para as mulheres com câncer do que gastaria com a vacinação da população.
Não sei qual o motivo, mas a primeira hipótese que veio à minha mente é que é mais fácil desviar dinheiro público nos hospitais do que na vacinação. Uma hipótese. De qualquer forma, estimular esse debate pode servir para pressionar o governo a comprar as vacinas, ou melhor, lutar pela quebra de patente ou pela diminuição do preço na Organização Mundial do Comércio, como tem sido feito em relação aos remédios utilizados no tratamento da Aids, desde 2005.
P.S.: Mesmo vacinadas, as mulheres devem continuar fazendo o preventivo uma vez por ano. A maior parte das mulheres e dos homens infectados pelo vírus não tem qualquer sintoma.
5 comentários:
Lili, aplausos para a sua matéria. Que bom que estamos funcionando como um fórum de discussões importantes. A CCS bem que podia ajudar a comprar essas vacinas, mas a gente sabe bem onde o imposto vai dar, ou melhor, não vai dar. Vamos fazer nosso blog chegar na Presidência da República! Lula tem que lê-lo diariamente.
Gustavo, não exagere, por favor. Mas seu otimismo me faz ficar de bom humor!
Beijos!
Pô, Gu, o Lula lendo? Isso é um delírio, né? Nosso presidente tem várias qualidades, mas o gosto pela leitura não está entre elas.
Não custa sonhar, Clau...
Vamos tentar, ne!
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