30 de abr. de 2008

Novela?

A cobertura televisiva do caso Isabella Nardoni, cujo ápice se deu neste domingo, quando da reconstituição do crime no apartamento de onde a menina, de apenas cinco anos, foi jogada, está ultrapassando as fronteiras da ética. Foram horas e horas de exploração dos detalhes cruéis que cercam a morte da pobre garotinha. O noticiário eletrônico disputa o acesso, sempre exclusivo, claro, a provas e trechos dos laudos do inquérito. Os chamados programas da tarde também não falam de outra coisa. Apresentadoras de cabelo alisado por escova – elas são todas iguais – consultam psicólogos, advogados e até peritos para analisarem as possibilidades do caso. A imprensa, a opinião pública e até a polícia já têm certeza de que o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta Ana Carolina Jatobá, assassinaram a criança. Falta apenas saber como, e com detalhes. Todos aguardam as cenas do próximo capítulo.

6 comentários:

Unknown disse...

Novela mórbida e cansativa, Nique. O ápice foi o capítulo sobre a última reconstituição. O Fantástico ultrapassou os limites do bom senso...

Olívia Bandeira de Melo disse...

Acho que não só a Tv, mas a imprensa também tem explorado muito o caso, um folhetim policial, uma novela de suspense. Quantas vezes eu mesma abri a porta do apartamento ansiosa para ler mais um episódio!
O pai e a madrasta foram previamente condenados desde o primeiro capítulo, a polícia solta as informações diárias, em doses homeopáticas, o promotor se aproveita do assédio, a perícia exibe seu trabalho de mestre, tudo pronto para alimentar a mídia com uma boa e intrigante história.
E aí, não acho exagero perguntar: será que as pessoas querem que a novela chegue ao fim ou ficarão com saudades quando for exibido o último capítulo?

Cláudia Lamego disse...

Para mim, a cena mais chocante foi a dos peritos posando para fotos no Residencial London. Uma perita pegou a máquina, tirou as fotos dos amigos e depois se juntou à turma para sair também. O pior é que todos riam como se estivessem fazendo turismo.
Quanto a tragédias, é o que mais vende jornal e mais dá Ibope.
Mas o assunto no Rio essa semana foi o Ronaldo e os travestis.
Como humanos somos estranhos e mórbidos!

Miragaya disse...

O que mais me deixa intrigado na cobertura do caso Isabella é como as equipes de reportagem têm livre acesso ao colégio onde a menina estudava. Volta e meia tem uma equipe falando com as professoras, psicólogas ou mostrando os coleguinhas fazendo desenhos sobre a amiguinha. Será que ninguém tem o bom senso de preservar essas crianças? Precisa entrar no colégio para fazer matéria? Por que não pegar depoimentos de especialistas em consultórios ou outros locais? Para que expor tanto essas crianças, que já devem estar confusas com tudo isso? Sensacionalismo extremo.
Outra coisa que me deixa boquiaberto são as centenas de pessoas que faltam ao trabalho ou deixam de ir ao colégio para se aglomerar em frente ao prédio. Ficam clamando por justiça como se estivessem em um parque de diversões. O que eu fico puto é que se fosse para protestar em Brasília contra algum congressista pilantra ou fazer um abaixo-assinado pela mudança do código penal, ou simplesmente fazer uma ação social qualquer, mal e porcamente se reúne uns 20 gatos-pingados. E assim nos tornamos brasileiros...

Gardênia Vargas disse...

Humanos... quanto mais conheço...
Bom, ontem fiquei chocada mesmo foi ao ver o telejornal da líder. Entre as chamadas uma me chamou atenção: "uma mulher tranca seus três filhos e põe fogo na casa". Esperando saber mais alguma coisa, vi o jornal todo, que, para o meu espanto, deu uma matéria coberta de, no máximo, 30 segundos. Depois, lógico, o caso Isabella Nardoni ocupou meio bloco. Fiquei pensando: então um cara joga uma filha pela janela e o caso repercute um mês ou mais. Mas uma mãe põe fogo na casa com três filhos dentro e nada se fala. Deve ser normal. Nem tem muito espaço no jornal mesmo. Melhor dar o caso que está dando audiência há um mês mesmo. Cho-ca-da!

:o(

Miragaya disse...

Gardênia, é que quando chega na classe média, na vizinhança, aí serve para manchete. Casos como o de Isabella infelizmente acontecem frequentemente. Mas quando a criança cai no jardim de um condomínio de classe média, o sangue é mais vermelho e respinga nos outros...